O Brasil sofre investida inédita contra a laicidade do Estado, em favor da teologia política. Além de projetos que definem a família no sentido ortodoxo (descartando formas novas de vida familiar), surgem medidas apresentadas como conservadoras, mas que buscam sobretudo subverter a própria natureza do Estado. Qualquer cidadão que ande pelas salas de Comissões e corredores, na Câmara Federal, nota um atentado direto à Carta Magna. Músicas gospel tonitroam nas salas de comissões durante os intervalos de trabalho. Pastores e padres, com mandato ou sem, fazem cultos públicos no recinto que deveria ser neutro para defender toda a cidadania. Espíritas, umbandistas, budistas, ateus, todos pagam impostos, servem à pátria e lutam por ela. Não é lícito transformar a casa das leis comuns em templo desta ou daquela fé religiosa. A imprensa, os ministérios públicos e a justiça assistem silentes ao estupro cometido contra a Constituição, como se fossem normais as rezas nas Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Parlamento Federal.
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Roberto Romano: apologia das legítimas diferenças
O professor de Ética e Filosofia Política escreve sobre a presença da religião na política