Pedestre atravessa entre carros parados na faixa de segurança na Avenida Osvaldo Aranha
Foto: Luiz Armando Vaz
Em Porto Alegre, a faixa de pedestres é quase como se fosse dos carros. Quem permanece por algum tempo próximo a alguma das sinalizações de segurança nas ruas da cidade não demora a perceber: o respeito a quem anda a pé está longe de ser uma marca da Capital.
Mesmo a "campanha da mãozinha", lançada em 2009 pela prefeitura para estimular os motoristas a respeitarem o pedestre que fizesse um sinal para atravessar a rua, foi esquecida. Hoje, restam apenas alguns desenhos estampados no asfalto. ZH acompanhou a movimentação em cinco faixas de segurança sem semáforo, durante meia hora em cada uma delas, e atestou que a maior parte dos condutores ignora o pedestre que aguarda na calçada - e também aqueles que já estão com o pé na faixa para atravessar.
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A autônoma Rosane Marques Mesko, 54 anos, estava indignada ao tentar atravessar a Avenida Osvaldo Aranha, quase na esquina com a Rua General João Telles, no Bom Fim. Enquanto esperava para começar a travessia - pelo menos 10 carros a ignoraram -, contou que, naquele mesmo local, sua cadela foi atropelada por uma moto.
- Tu não tens segurança nem na faixa de segurança - lamenta.
Entre as faixas visitadas pela reportagem, essa foi onde houve maior desrespeito com o pedestre. Como a maior parte das dezenas de carros não deram passagem, só foi possível contabilizar flagras em que houve cumprimento à lei e respeito ao pedestre. Em apenas duas ocasiões, os condutores deram passagem.
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Em duas ruas do bairro Menino Deus, os flagras positivos foram mais numerosos, embora a maior parte dos motoristas também tenha ignorado as tentativas de travessia. Na Rua José de Alencar, próximo à Gonçalves Dias, pelo menos 12 veículos pararam para pedestres em meia hora, por volta das 17h.
Maria Aparecida Machado Veeck, 66 anos, aposentada que mora há três anos no bairro, conta que ali já ocorreu atropelamento em cima da faixa de segurança e que um carro passou por cima do pé de uma moça. Ela citou casos de desrespeito entre os motoristas:
- Às vezes um para, e o que está atrás começa a buzinar porque quer passar.
Carlos Augusto Thiesen, 65 anos, aposentado, não viu ninguém frear para ele quando atravessava a Avenida Getúlio Vargas, próximo à Rua Marcílio Dias, no mesmo bairro - 10 condutores pararam ali no teste feito por ZH.
- O pedestre tem que entender que não é por ter prioridade que precisa ser imperativo. O trânsito é um casamento - compara.
Há duas semanas em Porto Alegre, Antônio Alves de Sousa de Melo, estudante de 24 anos, também alivia a barra do motorista. Salienta que a situação em Porto Alegre é bem melhor do que no seu Estado, o Ceará, e destaca:
- A gente não deve culpar tanto (o motorista), esse estresse é da sociedade.
A reportagem também permaneceu na faixa de segurança que fica na esquina da Rua Carazinho com a Protásio Alves, no bairro Petrópolis. Entre dezenas de veículos, apenas quatro condutores pararam para pedestres. Já na Rua Alcídes de Oliveira Gomes, na frente do prédio da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), em metade das ocasiões, os motoristas pararam.
Questionada sobre o desrespeito ao pedestre na Capital, a EPTC informou realizar ações educativas e de planejamento. Também citou a instalação de semáforos, que acabam por beneficiar quem se locomove a pé: já são mais de mil, segundo o órgão.
Quando o motorista infringe a lei?
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, o motorista que deixar de dar preferência para pedestre e veículo não motorizado na faixa de segurança estará cometendo infração gravíssima, podendo perder sete pontos na carteira e pagar multa de R$ 191,54.
O mesmo se aplica quando o pedestre não concluir a travessia, mesmo que ocorra sinal verde para veículo, e quando o pedestre tem deficiência física ou se tratar de criança, idoso ou gestante. A infração é grave, com cinco pontos na carteira e multa de R$ 127,69, quando houver desrespeito ao pedestre que tiver iniciado a travessia mesmo que não haja sinalização a ele destinada ou estiver atravessando a via transversal para onde se dirige o veículo.
Em 2014, de acordo com a EPTC, foram realizadas 1.237 autuações por desrespeito a pedestres na faixa na Capital. Isso significa que uma média de 3,3 pessoas foram multadas por dia em Porto Alegre.
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