De um questionamento feito numa rede social surgiu um movimento entre amigos que está liberando gotas poéticas pelas ruas de Guaíba, na Região Metropolitana, e aproximando os apaixonados por poesia espalhados pelo país. Em apenas 15 dias, a LeiaLogo, comunidade criada no Facebook pelo estudante de Pedagogia Anderson Kubiaki, 23 anos, e pelos estudantes de jornalismo Marcelo Rutschell, 29 anos, e Andrea de Oliveira, 32 anos, ganhou a simpatia de mais de 650 seguidores, inclusive de outras cidades e Estados.
- Começamos por acaso. Fiz um post perguntando aos amigos se seria legal fazer uma intervenção poética na cidade. As respostas foram positivas. Na mesma hora, a Andrea me chamou no Facebook e perguntou se eu tinha algumas para espalhar por Guaíba - conta Anderson, que também é poeta.
Andrea fez cópias de quatro poesias do amigo e as colou com fita adesiva em postes da área central. Na primeira foto divulgada na rede social dela, os compartilhamentos mostraram que os amigos queriam mais.
- Como tínhamos material, decidimos criar uma comunidade específica para compartilharmos poesia com outros moradores de Guaíba e espalharmos as mesmas pelas ruas. Surgiu o LeiaLogo se não a chuva vai descolar. A ideia é que a intervenção não fique para sempre no local, mas que possa ser vista pelo maior número de pessoas - conta Anderson.
Para Marcelo, que também escreve poesias, o principal objetivo é espalhar mensagens positivas pelas ruas para motivar o dia de quem passa por elas:
- Por isso, as poesias precisam ser curtas. A gente quer que as pessoas possam ler para se sentirem bem.
Com a participação espontânea de poetas anônimos, que começaram a lotar a caixa de mensagens da comunidade com novas criações de até 15 linhas, o projeto ganhou mais força. Os amigos passaram a fazer lambe-lambes, usando cola caseira feita com água, farinha, açúcar e vinagre. Três intervenções foram realizadas pelo Centro da cidade. A mais recente ocorreu na tarde de domingo.
- Temos poesias que vieram de Minas Gerais. As pessoas estão pedindo para fazermos em outras cidades. Mas, por enquanto, queremos priorizar os moradores de Guaíba e espalhar as poesias pelos bairros - comemora Andrea.
Ao saber da iniciativa, o secretário municipal de Meio Ambiente, Lauro Sérgio Martinez, lembrou que pelo Código Municipal de Meio Ambiente é proibido colar qualquer tipo de cartaz em postes, árvores, paredes de prédios públicos e no muro do cemitério de Guaíba. Porém, ele demonstrou interesse em conversar com os idealizadores do LeiaLogo:
- Sou favorável a qualquer manifestação cultural positiva para a cidade. Podemos pensar, inclusive, em alterar a lei municipal que proíbe a colagem em determinados pontos. Poesia é algo positivo e nada comercial.
A cada nova colagem pelas ruas, o grupo recebe apoio dos moradores. Anderson revela que o trio pensa em tentar parcerias com as escolas locais para que incentivem os alunos a escreverem poesias. Marcelo está elaborando um projeto que propõe a criação de um concurso que leve poesia para os ônibus de Guaíba, como ocorre em Porto Alegre.
- O importante é incentivar a leitura. O LeiaLogo é apenas um ruído poético no cotidiano urbano - finaliza Anderson.
Pelas ruas
O frio na barriga
mudou-se
para o coração
(Maurício Lima)
Cultura
Moradores de Guaíba criam projeto que espalha poesia pelas ruas da cidade
Intervenção urbana chamada LeiaLogo se tornou página em rede social e conquistou simpatizantes de diferentes cidades e Estados
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