Inconformado com o tráfego de veículos sobre a ciclovia da Avenida Guaíba, em Ipanema, zona sul de Porto Alegre, um morador do bairro Guarujá resolveu protestar na manhã desta sexta-feira e quase foi agredido. O cozinheiro Eduardo Cambraia Costa, 44 anos, que utiliza a bicicleta desde os 14 anos, deslocava-se em direção à Tristeza quando se deparou com o fluxo de carros e de um caminhão próximo à esquina da Rua Déa Coufal. Ele parou e ficou deitado, e foi hostilizado por uma mulher. No local, há uma obra do DMAE e, sob orientação da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), os motoristas avançam pela ciclovia.
- Eu sou moradora do bairro, tu não manda no bairro. Eu sou moradora do bairro, bate em mim! - esbravejou ela.
Um pequeno grupo se formou em torno deles, como pode ser visto no vídeo abaixo, gravado por um amigo de Costa e publicado no Facebook. Os ânimos se exaltaram quando um homem de camiseta branca chega falando que o ciclista é "um otário, um babaca", e quase vira agressão no momento em que outro homem, de calção preto e sem camiseta, para ao lado de Costa, o ofende, e ameaça: "Eu só não vou fazer nada para ti porque estou com um carro emblemado. Se eu não estivesse, eu ia te tirar daí". O coro foi engrossado por um terceiro pedestre, que chegou por trás do ciclista e fez menção de dar um soco no rosto dele.
Posted by João Adures Pich on Quinta, 13 de agosto de 2015
Hoje pela manhã na ciclovia de Ipanema, POA.De um lado, obras na Av. Guaíba, má sinalização, carros, motos e caminhões ingressando na ciclovia, quando deveriam estar utilizando vias paralelas.Do outro, o Eduardo, tentando utilizar seu espaço garantido por lei.Julguem...
- Nunca fui ativista, a minha intenção era apenas seguir o caminho. Essa obra é benéfica para nós, do bairro, mas houve um descaso a respeito do desvio. Não há nenhuma informação de quem vem pelo Centro e, quando o motorista chega na Avenida Guaíba, não tem como voltar. Aí, se acha simplesmente no direito de invadir a ciclovia. Eu pedalava e dei de cara com carros. Me senti acuado. Se eu, que moro aqui, não brigar pelo direito da ciclovia, quem vai? - questionou Eduardo Cambraia Costa.
A obra, de substituição da adutora de água tratada, já dura 45 dias e consiste no lançamento de 4,7 quilômetros de rede, com um investimento de R$ 4,5 milhões. Ela beneficiará cerca de 140 mil pessoas que residem nos bairros Ipanema, Guarujá, Espírito Santo, Serraria, Cavalhada, Tristeza, Pedra Redonda e Vilas Assunção e Conceição. O DMAE estima o término em dezembro de 2015.
"A autoridade de trânsito faz o que acha necessário"
Em nota, a EPTC defendeu o desvio e alegou que é uma solução momentânea: "Em razão das obras, o desvio do trânsito está sendo feito pela ciclovia, para permitir uma melhor acessibilidade à região. Há sinalização indicativa de obras no local. No trecho, o tráfego é misto e o ciclista tem prioridade na circulação".
Conforme o vereador Marcelo Sgarbossa (PT), que milita em prol do uso da bicicleta hoje em Porto Alegre, a EPTC pode, por lei, fazer "os ajustes que acha necessários às circunstâncias momentâneas".
- Precisa ver se não há alguma solução técnica. A linha dessa prefeitura é sempre privilegiar o transporte motorizado. Ele (ciclista) cumpriu um papel de reafirmar o espaço garantido para ele. Independente da situação, ele reivindica algo conquistado. É a primeira ciclovia de Porto Alegre - argumenta Sgarbossa.
Foto: Divulgação / EPTC