A cerca até faz lembrar a de centros prisionais norte-americanos, como o de Guantánamo, em Cuba, mas fica na zona norte de Porto Alegre. É na Avenida Assis Brasil, perto do Viaduto Obirici, que está sendo instalado o novo consulado dos Estados Unidos, em uma área onde antes ficava um supermercado. E o gradeamento que isola o imóvel tem impactado na circulação de veículos e pedestres na região pelo menos desde segunda-feira, conforme moradores.
O cercamento avança pela calçada da Assis Brasil e pela Rua Bezerra de Menezes. A previsão é de que, até dezembro de 2016, a representação dos Estados Unidos esteja pronta, e até lá os bloqueios permanecerão, de acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).
Apesar do transtorno na mobilidade urbana, há reflexos na segurança, que melhorou no entorno, conforme a comerciária Maria Helena Fritzen, 61 anos. Ela recorda que assaltantes batiam ponto na região e que, desde a instalação da cerca e com a presença de operários, a sensação de insegurança diminuiu.
- Eu passo ali todos os dias, e o trânsito está horrível. Mas vai melhorar a segurança, ainda mais quando o consulado estiver pronto. Esperamos que a obra ande o mais rápido possível - disse.
Estrangeiros têm trabalhado na obra. Na manhã desta terça-feira, um colombiano realizava serviços ao longo da cerca montada na Assis Brasil e na Bezerra de Menezes. Na esquina, a placa com o nome da rua estava quebrada. O problema teria ocorrido durante a obra, afirmou Maria Helena.
O consulado terá 8 mil metros quadrados, área construída considerada a maior entre os demais espaços consulares do país. A representação consular anterior foi fechada em 1996, dentro de um plano de reformulação proposto pelo governo americano.
Preocupação com segurança beira a paranoia, diz especialista
A preocupação com segurança é normal nas representações diplomáticas americanas, conforme o historiador e professor titular de Relações Internacionais da UFRGS Paulo Visentini. Ele já visitou algumas dessas representações pelo mundo, e, quando há obras, sempre são um transtorno para a população local, observou:
- No Suriname, eles invadiram uma pista inteira da rua em Paramaribo, e o trânsito teve de ser desviado por outra via. Também colocaram uma bandeira imensa para marcar a presença. Assim tem sido o padrão, e é ainda mais pesado quando a construção parte do zero, quando podem criar uma espécie de bunker.
Reginaldo Nasser, professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em segurança internacional, aponta que os americanos beiram a paranoia em termos de segurança. Isso ocorre porque os Estados Unidos podem esperar reações de vários países devido ao seu intervencionismo, um comportamento que aumentou muito depois do 11 de Setembro:
- Quando houve o ataque às Torres Gêmeas, foi dito que poderiam ter sido os japoneses por causa da bomba atômica, que podiam ser os russos por causa da Guerra Fria. Muitos têm motivo para atacá-los. E eles usam isso para justificar a segurança, além de dar um recado para o país onde fica o consulado: não confiamos que vocês possam nos dar segurança.
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Nasser lembra da instalação de uma representação americana nos Jardins, em São Paulo. No local, a calçada tinha bloqueios de concreto e não era permitido estacionar. Se naquele bairro nobre havia um dispositivo desse tipo, Porto Alegre não deverá escapar. A justificativa pode ser a proximidade com a Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, na região de Foz do Iguaçu, que, segundo os Estados Unidos, é um foco de terrorismo. Leia todas as notícias de Porto Alegre
O consulado na Capital
- Avenida Assis Brasil, 1.889, bairro Passo D'Areia.
- 8 mil metros quadrados de área construída.
- 90 vagas de estacionamento coberto.
- Cem funcionários, entre brasileiros e americanos.
Visto facilitado
- A previsão é emitir entre 500 e mil vistos por dia na Capital.
- Os EUA tiveram consulado no RS de 1918 a 1996, quando eram liberados cem vistos diariamente.
- A Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) estima um aumento de 20% no número de vistos para gaúchos, com base em desistências registradas pelos operadores por conta da despesa extra gerada pelo visto.
- No ano passado, o número de turistas brasileiros nos Estados Unidos chegou a 1,8 milhão, uma alta de 18% em relação a 2011, de acordo com o Departamento de Comércio americano.
- A taxa de rejeição de vistos para brasileiros foi de 3,8%. Países que conseguem reduzir o percentual de rejeição para menos de 3% são incluídos nos programas de dispensa da autorização.
Foto: Ronaldo Bernardi