Depois de fazer mais de 11 mil quilômetros a remo no norte do país, o pesquisador e Oficial da Reserva do Exército Hiram Reis Silva completou, na manhã desta sexta-feira, a volta na Lagoa dos Patos, aportando seu caiaque na praia de Ipanema, zona sul da Capital.
Remar nas águas do Sul por 567 quilômetros pode não ter a mesma graça que se mover por vias aquáticas que circundam tribos indígenas e florestas tropicais da Amazônia, mas tem lá seu gosto de aventura: a expedição teve ventos de 50km/h e ondas de até três metros de altura.
E há de se levar em conta que, para quem já tem seus 64 anos, virar o barco, comer macarrão desidratado e passar frio por 14 dias (com apenas três de descanso) são adversidades consideráveis. Mas que Hiram encarou com muito bom humor.
- Prefiro viver nesse espírito a estar parado em casa - diz o coronel.
Essa é a sexta vez que o militar percorre a Lagoa, mas a primeira que consegue finalizar todo o percurso. A aventura começou na manhã do dia 13, tendo como ponto zero a Praia da Varzinha, em Viamão. Em direção ao Sul, ele optou por remar na margem mais ventosa - a Oriental - e contar com a ajuda do "Nordestão" para descer até Pelotas.
- Logo no primeiro dia, o barco que me acompanhava rasgou a vela. Depois, em São Lourenço, estragou o motor, e tive que seguir sozinho até o fim.
Remando em média nove horas por dia, ele preencheu os dois compartimentos de carga do caiaque oceânico com um colchão de ar, um saco de dormir, travesseiro inflável, algumas roupas e alimentos (basicamente água e massa desidratada).
- Ter um bom caiaque é fundamental para o remador. É como o cavalo e o cavaleiro, os dois se tornam uma coisa só - compara.
Próximo desafio aquático de Silva será remar perto das onças no Pantanal Foto: OMAR FREIRAS / AGÊNCIA RBS
Os três dias de descanso foram gastos com pesquisa e anotações em locais como a Vila Itapuã, a ilha Chico Manoel, Tapes, Arambaré e Fazenda Soteia, em Pelotas. O feito faz parte de um projeto abrangente denominado "Jornada pelos Mares de Dentro", que incluiu a circunavegação da Lagoa Mirim, realizada nos meses de dezembro de 2014 a janeiro de 2015. A partir da experiência, ele pretende escrever livro e registrar histórias desses mananciais e suas curiosidades.
O projeto cultural, que inclui a edição de outros oito livros, é independente e conta com ajuda de 150 apoiadores. A ideia surgiu como uma forma de se manter ativo e driblar a depressão depois que a mulher, Neiva Maria, sofreu um AVC e ficou em estado semivegetativo - como vive há 11 anos.
Os gastos no cuidado com ela são altos e, por isso, fica difícil publicar seus livros. Mas Hiram não desiste: ele sabe que quando for a hora, conseguirá cumprir sua missão e imprimir as melhores histórias. Até lá, seguirá remando em busca de novas descobertas, com a aprovação dos filhos:
- No início, a gente ficava com medo, depois nos acostumamos, sabemos que ele irá chegar bem - diz a filha primogênita Vanessa Motta Reis da Silva, que aguardava o pai na chegada.