O prefeito Cesar Souza Junior (PSD) vai formalizar um protesto junto ao Ministério da Justiça e o governo do Acre pela forma como foram encaminhados a Florianópolis os 43 imigrantes senegaleses e haitianos que chegaram à capital catarinense por volta da 1h desta segunda-feira. De acordo com o prefeito, a operação foi feita de forma "amadorística e atabalhoada" e a falta de informações sobre a vinda dos imigrantes dificultou os preparativos para recebê-los.
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Leia a íntegra da entrevista exclusiva concedida ao Diário Catarinense.
Como a prefeitura recebeu a informação sobre a chegada dessas pessoas e como se preparou?
Para a prefeitura não veio nenhuma comunicação do governo do Acre ou do governo federal. Houve apenas uma comunicação no final da tarde de sexta-feira para a Secretaria de Estado (da Assistência Social). Mas sempre com dificuldades para dar retorno, confirmar informações. Primeiro eram 48, depois eram 100. A gente procurou fazer de maneira bastante rápida a estrutura no Capoeirão, ainda que provisória. Inicialmente aguardávamos no sábado e acabaram chegando no final da noite de domingo. Causou espécie que não foi feito o básico lá. As pessoas não foram vacinadas, as pessoas não tiveram nenhum tipo de cuidado epidemiológico, embora venham de regiões em que temos problemas. Separando muito bem as coisas, uma coisa são as pessoas, que quando aqui estão são problema nosso. Mas também estamos formalizando um protesto ao Ministério da Justiça e ao próprio governo do Acre pela maneira amadorística e atabalhoada como o processo foi conduzido.
Existem informações sobre a vinda de mais haitianos e senegaleses?
Tem um boato falando de mais 350. Como o outro boato se confirmou, estou levando muito a sério esse. Estamos contatando os órgãos para falar que não temos condições de absorver um volume tão grande de pessoas em um curto espaço de tempo. Nós não vamos admitir que simplesmente enfiem as pessoas em um ônibus e mandem tocar para cá sem nenhum prévio aviso, sem nos dar tempo para preparar as coisas adequadamente. Literalmente, transferindo responsabilidade sem nenhuma contrapartida.
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Florianópolis tem condições de absorver essas pessoas?
Do ponto de vista de emprego, a gente tem oportunidades. Mas dessa maneira, 350 pessoas do dia para a noite, acho complicado. Primeiro, a infraestrutura de recebimento. Essas pessoas têm que ser cadastradas, passar por exames médicos, receber vacinas, ter a documentação regularizada. Nós não temos estrutura para receber um volume tão grande assim. Essa vez nós fomos surpreendidos, tivemos que agir, mas estou comunicando que não temos condição de transformar isso numa rota. A prefeitura não tem dinheiro para isso e temos problemas sérios aqui, embora lá fora achem que não.
O Estado tem sido parceiro nessa questão?
Plenamente parceiro. Desde o primeiro momento tivemos contato, já na sexta-feira, com a secretária Angela Albino (Assistência Social). Durante o final de semana falamos várias vezes, estamos trabalhando de forma integrada. Até porque parte dos servidores da Assistência Social (do município) estão paralisados, então, o Estado nos ajudou muito, e a parceria tem sido muito positiva.
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Florianópolis tem convivido há alguns anos com a presença dos haitianos trabalhando na cidade. A prefeitura tem um cadastro sobre eles, sabe como estão?
Nós temos em torno de 450 haitianos. É o que temos cadastrado. Temos experiências muito positivas com os haitianos. Inclusive estamos fazendo um curso de português para aqueles que já estavam aqui, para favorecer a inserção no mercado de trabalho. Temos haitianos trabalhando em obras públicas, contratados por empreiteiras. Empresas como McDonalds, Burguer King, Bobs tem tido experiências muito positivas. Nada contra quem quiser vir a Florianópolis trabalhar honestamente, pagar seus impostos e contribuir para a cidade. Tudo contra a maneira amadorística como o governo federal conduziu esse processo.
Como será esse protesto que a prefeitura vai formalizar junto ao governo federal?
Nós vamos formalizar o protesto pela maneira como aconteceu, será encaminhado diretamente ao ministro (da Justiça). Falei com o governador (Raimundo Colombo) e ele me disse que também vai fazer um contato com o ministro e com o governo do Acre. A grande maioria dessas pessoas não ficam em Florianópolis, vão para outros lugares do Estado. Não quer dizer que nós nos neguemos a receber os imigrantes. Pelo contrário, em poucos lugares do Brasil eles tiveram a qualidade do atendimento que demos aqui. Mas nós queremos que as coisas sejam discutidas, informadas previamente, que a gente tenha tempo para se preparar. E que seja um número absorvível pelo mercado de trabalho da cidade, para que essas pessoas possam vir e ser produtivas e não gerar mais problemas sociais. Tem muita vaga de trabalho aberta, sobretudo nessa área de restaurantes e construção civil. Mas também às vezes há problemas de adaptação, é natural, são pessoas de outros países, outras culturas. Não é um processo tão simples, colocar num ônibus e despejar. Precisamos ser ouvidos pelo ministério antes que esse tipo de coisa aconteça.
Os haitianos e senegaleses são bem-vindos a Florianópolis?
Todos aqueles que queiram contribuir com a cidade e trabalhar são bem-vindos, inclusive os haitianos e os senegaleses. Mas tem que ser feito isso num número e numa velocidade que a economia da cidade consiga absorver. As pessoas têm que vir para cá para serem produtivas, como diversas já estão sendo. Esses dias eu fui numa obra do Maciço do Morro da Cruz, fui cumprimentar os trabalhadores e percebi que nenhum deles me conhecia. Eram 12 haitianos que estavam lá trabalhando, e o encarregado disse que eram excelentes. Estão construindo uma estrada que vai melhorar a vida da população de lá. Quanto a isso, são bem-vindos. Mas não da maneira como vieram dessa vez, que inclusive os expôs a uma situação bastante desagradável.