O psicólogo Felipe Pimentel e o psicanalista Mário Corso analisam o vídeo publicado pelo Diário Gaúcho, em que um homem é executado diante de uma filha e dois netos - um deles, aparentando no máximo três anos. Para os especialistas, é difícil precisar qual o impacto de uma cena brutal como essa no desenvolvimento de uma criança, mas explicam que o trauma é inevitável.
- Essas questões mais difíceis da vida, como a violência, a morte, as perdas, essas coisas por si só já são difíceis de uma criança lidar. Só que a gente sempre cria imaginários e coisas simbólicas para que as crianças possam lidar com isso. Se tu pensares, por exemplo, quando a criança perde o bichinho de estimação, a gente cria essas coisas imaginarias e simbólicas, dizemos que o passarinho voou para longe e que o cachorrinho foi para o céu - analisa Felipe.
VÍDEO: homem executado na frente da filha e de netos, em Porto Alegre
O psicólogo também avalia que, para uma criança, presenciar uma situação dessas empobrece a relação deste ser - que ainda não consegue decifrar o simbólico e o imaginário - com o mundo:
- Uma criança que fica marcada pela brutalidade tem um mundo esvaziado de sentido. O que fica de ver o avô ser assassinado? Fica apenas a brutalidade. A definição de trauma é exatamente essa, quando só sobra o horror da situação.
Para Mário Corso, também é importante ter noção do papel que o avô tinha na vida do menino.
- É óbvio que vai causar um trauma. A gente não sabe o papel que esse avô tinha. Mas, o que eu já vi de situações semelhantes, trata-se de pessoas que, normalmente, já vêm de uma condição humana desamparada. E a gente fica muito mais desamparado quando perde um pai, um avô. É muito maior o impacto do que quando perdemos um irmão, com o qual temos uma relação lateral - pondera.
Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA), Corso ainda lembra uma entrevista de um ex-mafioso italiano que ele assistiu na televisão sobre o "código de conduta" dos mafiosos.
- Para a máfia italiana, não era permitido que eles fizessem nada que envolvesse o testemunho de uma criança. Tem a história de um cara que só saia para a rua com filho, porque assim ele nunca sofreria nada. o código de honra da máfia não permitia que eles fizessem isso. Já tivemos bandidos melhores. Se perdeu a dignidade. Não existe mais código de conduta.
Assista ao vídeo:
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