Após um período de ostracismo que o deixou ainda mais deteriorado, o prédio do Cine Avenida, em Porto Alegre, enfim ganhará uma nova ocupação. O imóvel, que é inventariado pelo município, receberá uma unidade da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs). As aulas deverão ocupar os dois andares do edifício, com divisórias leves para não interferir demais na arquitetura, segundo a diretora da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) da Capital, Débora Magalhães.
O local já está em obras, e, apesar de a prefeitura confirmar que o trabalho está regularizado, a vizinhança ficou em polvorosa pela dimensão das demolições no interior do imóvel. Sem informações concretas, o medo de que o edifício poderia ser demolido foi pauta de discussões na internet.
A arquiteta Enilda Miceli, que é especialista em restauração e mora perto do Cine Avenida, lamenta que a prefeitura não informe antecipadamente sobre o destino dado a prédios históricos da Capital, especialmente à comunidade do seu entorno. Ela disse que se o projeto fosse divulgado, muita gente se tranquilizaria: além de ser um marco de esquina e um ordenador de quadra, o antigo cinema é um patrimônio imaterial pelo valor afetivo que emana à vizinhança, considera Enilda.
- Estamos perdendo tudo que tem valor em Porto Alegre. O valor afetivo desse edifício é pesado. Quando ele virou comitê eleitoral (dos candidatos José Fogaça e, depois, José Fortunati), eu tive um ataque porque colocaram um monte de coisas na fachada. E essa obra, tiraram um monte de coisas lá de dentro de noite. Por que as coisas são retiradas à noite? - questiona.
Enilda critica ainda a destruição das portas de madeira que se espalham pela lateral do prédio junto à Avenida Venâncio Aires. A arquiteta lembra da existência das portas quando frequentava o cinema.
Com o passar do tempo, quase nada restou de original dentro do prédio, situado na esquina das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires. As diversas ocupações que teve depois de deixar de ser um cinema com capacidade para 2 mil pessoas, em 1996, foram distorcendo aos poucos as características internas. Já a fachada não pode ser modificada, pois o imóvel é inventariado pelo patrimônio histórico.
- O que nos interessa é que não fique abandonado, porque aí o prédio se deteriora. Lá dentro não tem mais nada de original - argumentou a diretora da Epahc, Débora Magalhães.
Histórico
- O cinema começou a funcionar em 1923
- Atingido por um ciclone, o prédio foi parcialmente destruído em 1929. No mesmo ano, recuperado, o Cine Avenida voltou a projetar filmes
- As salas de cinema foram desativadas em 1996
- Durante quase uma década, o local hospedou um bingo
- Em 2008, foi comitê da campanha do candidato José Fogaça à prefeitura da Capital
- Assim como Fogaça, o seu vice na época, José Fortunati, fez do Cine Avenida o seu comitê eleitoral em 2012, e também se elegeu prefeito
- Em 2010, foi ocupado por bingos clandestinos, fechados em sequência pela fiscalização
- Virou Pub Cine Avenida ainda em 2010, com uma proposta de atrair um público eclético, "que goste de cinema e de música de qualidade"
- Em 2012, o cinema foi colocado à venda por R$ 6 milhões, conforme avaliação de mercado
- Foi adquirido entre meados de 2014 e início de 2015 pela Dallasanta Empreendimentos e Incorporações, junto à família que era proprietária do imóvel, depois de uma longa negociação. Agora, ficará alugado à Fadergs
Interior do prédio está sendo reformulado
Foto: André Mags