O presidente Barack Obama, em dezembro passado, deu por encerrada a participação americana na Guerra do Afeganistão. Mas esqueceu de combinar com o Talibã, e nada indica que a segunda guerra mais longa da época contemporânea (36 anos) vá se encerrar. A de Angola durou 42 anos e a do Vietnã quase 30. Quando e por que iniciou e como tem se prolongado, sempre mudando, sem sinal de pacificação?
Os afegãos não gostam de estrangeiros ocupando seu país, tendo lutado contra ingleses, soviéticos e a coalizão liderada pelos Estados Unidos. Em 1973, a arcaica monarquia foi derrubada por um príncipe, que implantou uma república ainda mais instável. A repressão aos esquerdistas teve como consequência um golpe em abril de 1978, que implantou um regime comunista. As mudanças aceleradas, como reforma agrária e emancipação das mulheres, tiveram como resposta a formação de guerrilhas islâmicas, apoiadas pelo Paquistão e, logo, pelos EUA e Arábia Saudita.
A situação do regime ficou tão precária, especialmente após a Revolução Iraniana, em fevereiro de 1979, que em dezembro a URSS interveio militarmente, substituindo a facção radical do regime por uma moderada. Mas os cem mil soviéticos não conseguiam derrotar a guerrilha (agora bem armada) e esta não podia vencê-los. Gorbachov retirou-os em fevereiro de 1989. Mas os comunistas afegãos, lutando sozinhos, só foram derrubados em abril de 1992, depois da desintegração da URSS.
Todavia, não houve paz, pois os sete movimentos de oposição começaram a lutar entre si, numa divisão baseada em etnias e alianças externas. O conflito destruiu Cabul, até então intacta, e fragmentou a nação entre Senhores da Guerra. Em 1994, surgiu o Talibã ("estudantes de religião"), geralmente órfãos criados e armados no Paquistão e guerrilheiros árabes que lutaram contra os soviéticos. Em 1996, controlou o sul (de etnia pashtu) e conquistou Cabul, encurralando os demais em dez por cento do território (uzbeques e tadjiques). O talibã cometeu atrocidades, tolerou a produção e a exportação de ópio e heroína e deu guarida a grupos terroristas como a Al Qaeda.
Como resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA armaram a Aliança do Norte e enviaram tropas, derrubando o Talibã e implantando um governo amigo. Pensando ter a situação sob controle, retirou parte das tropas para invadir o Iraque, mas, logo, os talibãs ressurgiram e a coalizão internacional liderada pelos EUA (120 mil soldados) ficou em situação igual à dos soviéticos anteriormente. Pior, o Talibã se implantou no Paquistão (onde vive metade dos pashtus) e começou a desestabilizar esse país. Assim, 13 anos depois, os americanos se retiram, sem acabar com o conflito, sem eliminar o terrorismo internacional (que aumentou) e deixando o Paquistão ameaçado. O pequeno, atrasado e fragmentado Afeganistão segue sendo um desafio aos poderosos e modernos.
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