A cada seis horas, uma pessoa é assassinada na Região Metropolitana. Foram pelo menos 1.442 pessoas vitimadas em 2014. Os números comprovam que se trata do ano mais violento desde 2011, quando o Diário Gaúcho começou a fazer o levantamento dos homicídios na região.
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Um volume de crimes 26,5% superior ao verificado no ano anterior. Para a ONU, esta é uma região epidêmica, no que diz respeito aos assassinatos. Enquanto a organização considera níveis toleráveis uma taxa de homicídios de 10 assassinatos para cada 100 mil habitantes, a região fechou o ano com quase quatro vezes esse volume. Foram 38,3 assassinatos para cada 100 mil habitantes.
A estimativa é de que pelo menos a metade dos crimes estejam relacionados a disputas do tráfico ou acertos de contas. E, a cada dez vítimas, pelo menos seis tinham antecedentes criminais.
Para a polícia, a explosão de homicídios está diretamente ligada ao aumento do poder entre as facções criminosas e à consequente disputa entre essas quadrilhas.
Nunca houve tantas mortes violentas na Região Metropolitana como no ano que passou. Foram 1.442 homicídios, um aumento de 26,5% em relação a 2013. Não bastasse o aumento generalizado dos homicídios, o levantamento do Diário Gaúcho mostra que o poder de fogo das quadrilhas envolvidas aumentou em proporção ainda maior.
Em pelo menos 94 casos, as vítimas morreram com mais de dez tiros. E, em até 90 deles, os matadores empunhavam pistolas ou metralhadoras 9mm, com potencial ofensivo muito maior do que o calibre 38, por exemplo. O mesmo levantamento em relação aos homicídios de 2013, demonstra que 39 pessoas foram mortas com mais de dez tiros. E o 9mm foi usado em 35 casos.
- Eles atiravam sem parar, acho que não durou muito tempo, mas parecia uma eternidade. Ninguém botou a cabeça pra fora de casa até acabar. Tipo coisa de filme de guerra.
O relato de uma moradora da Rua Moçambique, Vila Safira, no Bairro Mario Quintana, Zona Norte da Capital, demonstra a percepção das pessoas comuns daquilo que, entre os investigadores de homicídios na Região Metropolitana virou quase uma regra em 2014: a lei do "caixão fechado". Significa que não basta executar a vítima, é preciso crivar o corpo de balas.
- Chegou ao ponto de estranharmos quando tínhamos uma cena de crime com só um ou dois tiros. E, muitas vezes, a vítima desse excesso de disparos não tem sequer uma importância maior no mundo do tráfico ou da criminalidade de um modo geral - conta o delegado Rodrigo Pohlmann, que até agosto comandou a 4ª DHPP.
Não tem mais hora, nem lugar
Uma das possíveis consequências do maior potencial em armamentos das quadrilhas foi o aumento da ousadia nos assassinatos. As emboscadas já parecem não levar em consideração o local, a presença de testemunhas ou de algum aparato de segurança.
Eram 15h de uma segunda-feira, em maio, quando Leandro Moacir Chagas Dutra, 37 anos, foi morto a tiros em um dos pontos mais movimentados do Centro da Capital, na Rua Riachuelo. Segundo a polícia, o crime foi um acerto de contas.
Os criminosos também não se importam mais em invadir locais cheios de gente para eliminar os desafetos. César da Fé Bugmaer, o Russo, foi executado dentro do Hospital Cristo Redentor, em outubro. Saul de Almeida Gonçalves, foi morto na emergência do Hospital Centenário, em junho. Em novembro, José Chrisóstomo Júnior foi assassinado a tiros dentro do lotado Pronto-Atendimento da Vila Cruzeiro, assim que a Brigada Militar, que o havia socorrido, saiu do local.
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O subcomandante geral da Brigada Militar, coronel Paulo Stocker, explica que, no caso dos hospitais, só há guarda policial quando o paciente está sob custódia. Salienta que a corporação "não tem pernas" para manter uma vigilância constante nas instituições.
- Para 2015, estamos definindo ações para coibir os crimes violentos, contra a vida e o patrimônio, conforme a linha de ação fornecida pelo secretário da Segurança - afirma o oficial.
O coronel explica que a estratégia será saturar as áreas em que há guerra entre traficantes, antecipando ações nessas regiões através do trabalho de inteligência. Também serão incrementadas operações para desarmar os criminosos, através de barreiras, abordagens e revistas.