Dentro de, no máximo, três meses, soldados da Brigada Militar (BM) e do Corpo de Bombeiros em horário de serviço poderão embarcar nos ônibus de Porto Alegre de graça mesmo sem farda. A lei que modifica a isenção de tarifa, aprovada pela Câmara Municipal em novembro, foi sancionada com veto parcial pelo prefeito José Fortunati. Para valer na prática, falta agora apenas a regulamentação, que será publicada pela Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) em até 90 dias. A medida beneficia também os servidores da Guarda Municipal.
Antiga reivindicação da categoria, a isenção para brigadianos à paisana voltou a ser debatida depois que o soldado Márcio Ricardo Ribeiro foi morto a tiros dentro de um coletivo da linha Itapuã, de Viamão, na Avenida Juca Batista, no bairro Hípica, no dia 16 de outubro. O PM foi atingido por sete disparos, seis no colete à prova de balas e um cabeça, quando criminosos assaltaram o ônibus.
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
Pela nova lei, os PMs poderão utilizar o transporte coletivo da Capital de graça - em horário de serviço - quando estiverem fardados ou à paisana, mediante a apresentação de Cartão de Isenção na forma de Passe Gratuito ou similar, emitido pela EPTC. De acordo com o secretário municipal de Transportes em exercício, Marcelo Soletti, os cartões devem ser semelhantes aos utilizados por outros usuários isentos, como idosos e pessoas com deficiência.
- Vamos sentar com os técnicos para determinar o formato. Deverá haver alguma identificação específica, mas nada que venha a expor que o usuário é policial. As regras, com a relação da documentação necessária e o modelo do passe, devem sair entre 60 e 90 dias - explica Soletti.
Sargentos e tenentes ficaram de fora
Na sanção da lei, o executivo vetou dois pontos que previam a extensão do benefício para os servidores de nível médio (sargentos e tenentes) da BM e Bombeiros. Esses itens haviam sido incluídos no projeto original, de autoria do vereador Cássio Trogildo (PTB), por emendas da vereadora Fernanda Melchionna (Psol).
- É uma grande injustiça. Na década de 1990, os sargentos e tenentes foram incluídos no serviço da execução da BM, no trabalho de rua. Eles não recebem vale-transporte. Nossa proposta era garantir também a eles esse direito - criticou Melchionna.
Conforme a vereadora, havia uma reunião marcada para a manhã desta quinta-feira com o vice-prefeito Sebastião Mello para esclarecer a concessão do passe-livre também aos servidores de nível médio, mas a prefeitura acabou publicando a sanção com os vetos no Diário Oficial antes do encontro.
- Cancelaram a reunião sem nem ouvir os argumentos do trabalhadores - queixou-se a vereadora que afirma estar nos planos a retomada da reivindicação ao lado da categoria, inclusive com a possível apresentação de um novo projeto.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar (Abamf), Leonel Lucas, avaliou a medida com um avanço importante, mas também lamentou os vetos na lei.
- Precisamos nos preocupar com o todo. O ladrão, o indivíduo que vai assaltar não está vendo se a pessoa no ônibus é soldado, sargento ou tenente. Ele vê um policial fardado e ponto. Vamos tentar conversar com o prefeito para mostrar a necessidade de reavaliar essa decisão - afirmou Lucas.
Vetos têm motivação econômica
Autor do projeto, Trogildo não considera que os vetos esvaziem o objetivo da proposta. O vereador explicou que, inicialmente, a matéria havia sido elaborada incluindo os servidores de nível médio, mas foi reformulada para evitar entraves na aprovação.
- Pela legislação, vereador não pode prever isenção. Mudamos o projeto para apenas alterar a forma de utilização de um benefício que já existe. Fizemos isso para evitar rejeição total da matéria por vício de inciativa - comentou Trogildo.
A exigência da farda já havia sido retirada, em 1992, da lei que regulamenta a isenção para os servidores "devidamente identificados", mas não especificava de que forma seria feita esta identificação. A nova lei sancionada evita interpretação dúbia da legislação e torna clara a dispensa da vestimenta.
Solleti justificou o que os vetos tiveram motivação econômica. Segundo o secretário em exercício, a inclusão dos servidores de nível médio teria impacto no cálculo da tarifa.
- Temos uma média de 30% de isentos. Isso significa que de cada três pessoas, uma não paga, e as outras duas acabam pagando por ela. Como a lei não indicava a fonte de recursos para estender o benefício aos sargentos e tenentes, e estamos no meio de um processo de revisão da tarifa, os vetos foram necessários para garantir a modicidade do preço da passagem - argumentou Soletti.
Isenção de tarifa
Prefeito sanciona lei que concede passe livre aos PMs sem farda nos ônibus em Porto Alegre
Regulamentação da gratuidade deve ser publicada pela EPTC em até 90 dias
Carlos Ismael Moreira
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project