Dois pedreiros escavavam um terreno no Bairro Lageado, Zona Sul de Porto Alegre, por volta das 11h de ontem, quando, a cerca de 1m de profundidade, foram surpreendidos com a descoberta de um saco plástico com uma ossada humana. O susto deixa a polícia bem próxima de, enfim, solucionar o misterioso desaparecimento de Cristiane Oliveira de Oliveira, que dura exatos três anos e três meses. Quando os peritos retiraram a ossada da vala, os familiares dela não tiveram dúvidas de que se tratava de Cristiane.
Junto do que restou do corpo, estavam os óculos dela, tênis, roupas e a mochila - ainda com o celular e uma garrafinha que ela costumava carregar com água guardados. De acordo com o perito Márcio Pinto, o estado de decomposição do corpo é compatível com um período de três anos. Junto às mãos, havia resquícios de uma corda _ indicando que a vítima teve as mãos amarradas - e a cabeça também havia sido enrolada com um saco plástico.
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O encontro aconteceu em uma das travessas da Estrada Jacques da Rosa, no limite entre o terreno onde Cristiane, que tinha 32 anos na época, e o marido, Rodrigo Velloso de Freitas, 33 anos, construíam a futura casa da família e a área vizinha, atualmente em obras. Ela foi vista pela última vez justamente na construção, antes de, supostamente, sair de bicicleta para buscar a filha na escola, no Bairro Restinga. Mesmo com a convicção dos familiares de que se trata do corpo da mulher desaparecida no dia 27 de outubro de 2011, a polícia ainda aguardará os exames comparativos de DNA para confirmar sua identidade.
Os resultados dos exames devem demorar em torno de um mês para chegarem à 4ª DHPP. Enquanto isso, o delegado Adriano Melgaço Júnior promete retomar o caso como prioridade.
- Na verdade, a investigação nunca parou, mas agora temos um corpo que provavelmente é o da Cristiane. Não vou adiantar nenhuma linha de investigação mais concreta. Nos próximos dias vamos voltar a ouvir algumas pessoas que podem amadurecer uma conclusão - aponta.
Considerado pelo Departamento de Homicídios como um dos casos mais complexos recebidos pelo órgão, desde 2011, pelo menos três delegados já se debruçaram sobre as pistas e indícios. Logo depois do desaparecimento, um pedreiro que trabalhava na obra da casa da família chegou a ser detido, mas logo liberado. O marido de Cristiane também foi listado como investigado - e chegou a conduzir apurações paralelas -, mas ninguém foi indiciado até o momento.
Terreno já havia sido vasculhado três vezes
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Duas irmãs e um irmão de Cristiane acompanharam todo o trabalho dos peritos na tarde de ontem. No final, Daiane Oliveira, 28 anos, desabafou:
- Acabou a angústia porque agora sabemos o que aconteceu com a Cristiane, mas aumentou meu ódio. Vou lutar até o fim por justiça, para ver quem fez isso com ela preso.
Ela tem convicção de que o autor do crime esteve próximo da família durante todo este tempo.
- É alguém que debochou da nossa tristeza e da esperança de encontrarmos ela. Provavelmente pensou que nunca acharíamos _ disse.
Curiosamente, a ossada foi encontrada em um local revirado pela polícia ao longo de toda a investigação. Entre 2011 e 2013, pelo menos três vezes partes do terreno _ e até dentro da casa _ foram escavadas. Cães farejadores foram usados e até mergulhadores dos bombeiros chegaram a fazer buscas em um açude na localidade. Segundo a família, há cerca de um ano nenhuma nova informação foi repassada pela polícia.
Pois a queda de um muro antigo acabou representando o início de uma busca inusitada. Foi quando o vizinho resolveu reforçar a estrutura. No final da manhã de ontem, os pedreiros abriam o terreno para fazer as fundações do novo muro quando se depararam com o corpo.
Marido não apareceu
Mesmo que tenha figurado na linha de frente das buscas pela mulher, dias depois do sumiço - inclusive alugando um helicóptero para localizar pistas -, Rodrigo Velloso de Freitas, depois de avisado por vizinhos, não apareceu ontem no local onde a ossada supostamente de Cristiane foi encontrada. Até dois anos atrás, enquanto era apontado como um dos investigados pela polícia, ele chegou a apontar outros suspeitos, a partir de investigações próprias.
Até que os pertences dela fossem reconhecidos junto do corpo, os irmãos também preferiram manter a cautela e não alarmarem os pais. Eles receberam a notícia no Litoral.
Desde o desaparecimento da filha, o pai ficou praticamente cego, com a evolução das cataratas. A situação de Eloni Oliveira, a mãe, que sempre foi a mais dedicada às buscas, é ainda mais delicada. Na época, ela já havia sofrido um AVC - e foi cuidada por Cristiane. Com o sofrimento, teve de aumentar as doses da medicação e passou a consultar uma psicóloga.