Há um ano de encerrar o contrato com a prefeitura de Porto Alegre, o sistema de aluguel de bicicletas BikePoa acumula reclamações dos usuários. Em meio a elogios, motivados pela facilidade nos deslocamentos e incentivo do uso da bicicleta na cidade, não são poucos os problemas apresentados. A falta de manutenção dos equipamentos e a indisponibilidade do serviço em algumas estações motivaram uma audiência pública na Câmara de Vereadores na manhã desta quinta-feira (26).
A reunião foi chamada pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, mas também contou com representantes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Associação de Mobilidade Urbana e Bicicleta (Mobicidade), Procon e da empresa responsável pela manutenção do sistema em Porto Alegre, a Serttel.
O integrante da ONG Mobicidade, Marcelo Kalil, levou ao debate as críticas de usuários. Kalil salienta a importância do serviço, mas enfatiza a necessidade de mais opções de pagamento do sistema. “O serviço serviu para mais pessoas usarem bicicleta na cidade, mas não podemos restringir a quem usa cartão de crédito. Creio que existe uma maneira de usar o TRI (cartão usado no transporte coletivo) para retirar as bicicletas”.
Além disso, Kalil lembra que as bicicletas de aluguel passaram a receber patrocínio sem que isso se revertesse em melhoria do serviço ou redução do valor cobrado dos usuários.
O Coordenador da Filial Porto Alegre da Serttel, Vagner Silva da Rosa defendeu o atual formato da manutenção feita nas bicicletas e estações. Ele garante que há técnicos trabalhando diariamente na cidade para resolver problemas pontuais das bicicletas, como pneus furados e correias gastas.
Segundo Rosa, há quatro técnicos para cuidar dos 39 pontos de aluguel que integram o BikePoa. São quase 400 bicicletas. Ele avalia que, mesmo com o grande número de viagens diárias, os problemas são pequenos. “O vandalismo nas bicicletas em si é menor do que nas outras cidades e a manutenção que oferecemos é suficiente.”
Os vereadores que compõem a comissão foram rigorosos nas cobranças e solicitaram à Serttel a planilha com os indicadores de gastos com manutenção. Rosa garantiu que o relatório será enviado aos vereadores, mas negou abrir os dados para a imprensa, alegando serem para “consumo interno”.
Outro problema levantado pelos usuários foi a constante inoperância das estações. Em janeiro deste ano, em meio à greve do transporte coletivo, a Rádio Gaúcha publicou uma reportagem mostrando que 12, das então 38 estações, estavam fora de operação e com bicicletas “travadas”. Questionado sobre esse tema, o Gerente Regional da Serttel, Olívio Alberto, reconheceu o problema do início do ano e garantiu que, após o episódio, não houve mais problemas do tipo.
Prefeitura prevê edital para dar continuidade ao sistema
O contrato entre a Prefeitura de Porto Alegre e a empresa responsável pelo serviço de bike sharing termina no dia 22 de setembro do ano que vem. Prevendo a continuidade do sistema a EPTC quer lançar uma licitação para a escolha da nova administradora. Segundo o Coordenador de Projetos Especiais da empresa pública, Antônio Vigna, as sugestões dos usuários serão fundamentais. “Já há pesquisas sendo feitas com usuários para sabermos o que levar em consideração. Assim que terminar a Copa, vamos nos dedicar à licitação”
Algumas sugestões já foram levantadas no encontro desta quinta-feira, entre elas a possibilidade de pagamento com o cartão TRI, funcionamento do sistema 24h por dia, instalação de estações para pequenos reparos, expansão das bicicletas para as zonas norte e extremo sul e maior acessibilidade ao serviço.
Facilidade na comunicação
Entre os problemas apresentados pelos participantes na reunião, está a dificuldade de comunicação entre usuários e Central de Atendimento. Morando em Porto Alegre há um ano e quatro meses, o português Fernando Dionísio relata que já tentou usar o sistema diversas vezes, mas parou na barreira da comunicação. Dionísio é deficiente auditivo e mesmo conseguindo falar algumas palavras não consegue se fazer entender pelos atendentes. “Deveria haver mais maneiras de falar com a atendente. Se a bicicleta não libera no aplicativo, não tenho como falar com a central. Dependo sempre da boa vontade de quem passa pela rua”
O chamado BikePOA já completou 426 mil viagens desde que foi implantado, em setembro de 2012. Atualmente há 39 estações instaladas na Capital. A maior parte delas na região Central. O valor do passe mensal é de R$ 10 e o diário R$ 5. O sistema também existe em outras cidades do Brasil,como em Brasília, em que outro modelo foi implementado, custando R$ 10 por ano aos usuários.