Contrariando as previsões pessimistas que marcaram o início do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu terminar 2023 com números da economia além do esperado e a reforma tributária aprovada. Mesmo com desempenho considerado de destaque dentro do governo, ele tem recebido críticas de dentro do próprio partido.
Uma ala do PT aprovou recentemente uma resolução que fala em "austericídio" — que seria o suicídio econômico por políticas de austeridade, ou corte de gastos. Questionado a respeito em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta terça-feira (2), Haddad apontou uma contradição vista em mensagens de fim de ano.
— "A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!" E o Haddad é um austericida — comentou.
— Não dá para celebrar Bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB que passou o Canadá, essas coisas todas, e simultaneamente ter a resolução que fala “está tudo errado, tem que mudar tudo” — acrescentou o ministro.
Sucessão é questão para 2030
O trabalho destacado na Fazenda coloca Haddad como candidato à sucessão do PT, mas o ministro afirmou que não pensa em se colocar como candidato à Presidência depois de Luiz Inácio Lula da Silva.
— O Lula foi três vezes presidente. Provavelmente, será uma quarta — afirmou Haddad, fazendo referência a uma tentativa de reeleição em 2026.
O ministro disse que, ao mesmo tempo que é "um trunfo ter uma figura política dessa estatura por 50 anos à disposição do PT", também é um desafio grande pensar o "day after", referindo-se a um nome para substituí-lo.
Haddad afirmou não participar das reuniões internas do PT sobre a possível sucessão e que, para 2026, há consenso dentro do partido e na base aliada para que Lula concorra ao quarto mandato.
— Está pacificada. Não se discute — afirmou ele sobre a questão.
Segundo ele, o problema de um sucessor "vai se colocar" na eleição seguinte, alertando que o partido precisa começar a se preparar para a transição.
Articulação política
Na entrevista, Haddad fez considerações sobre a articulação política atual do governo. Ele avaliou que a relação com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, "está acontecendo", e relembrou que os dois têm uma relação antiga de trabalho, na prefeitura de São Paulo, e foram colegas de ministério.
— Falam que o pior emprego do mundo é o do ministro da Fazenda, mas tem concorrente, que é o do Padilha — brincou.
Com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Haddad disse que a relação começou bem porque a situação era de crise, quando a transição de governo foi feita pelo Legislativo, algo inédito, uma vez que "o Executivo sumiu", disse, se referindo ao governo anterior. Segundo Haddad, "as pessoas compreenderam o que estava em jogo" e a união foi fundamental para assegurar a democracia:
— Nós não estamos discutindo quem vai ganhar o campeonato. Nós estamos discutindo se vai ter campeonato, porque, se a gente não se entender, a gente não chega em junho.
A boa relação foi fundamental para que a série de reformas e propostas fossem aprovadas no Congresso, alavancando o nome do ministro.
Reforma do Imposto de Renda
Na entrevista, Haddad também falou das propostas econômicas do governo, enfatizou a aprovação da reforma tributária nos impostos sobre consumo, que ainda precisa ser regulamentada, e indicou que a reforma do Imposto de Renda pode ficar para 2025.
— O desafio de aprovar em 2024 a reforma do IR é que, como temos eleições municipais, há um problema de janela, que vai ter que ser avaliado pela política — disse, destacando que a regulamentação da primeira parte da proposta precisa ser votada primeiro.