O hacker Walter Delgatti Netto presta um novo depoimento à Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (18), em Brasília (DF). Esta é a segunda vez na semana que o chamado "Hacker da Vaza-Jato" depõe no âmbito das investigações sobre a suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
No depoimento de duas horas desta sexta-feira, Delgatti reiterou que a campanha do ex-presidente Bolsonaro planejou forjar a invasão de uma urna eletrônica na campanha de 2022. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
O hacker apresentou ainda, de acordo com o seu advogado Ariovaldo Moreira, um áudio contendo o que seriam promessas de pagamento realizadas por uma assessora de Zambelli.
— O Walter simplesmente reiterou tudo o que foi dito ontem. E as provas? O Walter apresentou ao delegado o caminho das provas — afirmou Moreira.
Procurado pela reportagem, o advogado de Zambelli, Daniel Bialski, declarou que irá esperar ter acesso ao material no inquérito para comentar.
Encontro com Bolsonaro
Ao chegar à sede da PF para acompanhar seu cliente, o advogado disse que as afirmações de Delgatti são “indícios de provas”.
— Entendo quando vocês (jornalistas) perguntam se há provas (do que Delgatti afirma). Há indícios de provas. Porque não há dúvidas de que o Walter esteve com Jair Bolsonaro. Ontem (na quinta), o filho do Bolsonaro (o senador Flávio Bolsonaro) confessou isso. E há, com certeza, no Ministério da Defesa, câmeras e imagens. Com o Walter informando as datas e horários em que afirma ter estado no prédio do ministério, muito provavelmente será possível obter estas provas — comentou o advogado ao dizer que Delgatti pode fazer uma delação premiada.
Moreira afirmou ainda que "não está descartada a possibilidade de uma delação premiada", assegurando que seu cliente já deu todos os esclarecimentos à PF e à CPI.
— Não sei qual a intenção da autoridade policial (com o depoimento) desta sexta. Não sei quais novos questionamentos a autoridade policial entende ser necessário. Vou avaliar o que a autoridade policial tem a questionar e orientar o Walter sobre se ele deve ou não responder — completou.
Segundo o advogado, Delgatti não havia relatado a respeito do suposto telefonema com Bolsonaro no depoimento anterior "porque a autoridade policial entendeu que não era relevante nesse inquérito que investiga a invasão do CNJ".
Na quinta-feira, após o depoimento à CPI, ele disse que Delgatti "usa e abusa de fantasias em suas palavras". Ele negou participação da deputada em irregularidades e pontuou ainda que a defesa de Zambelli ainda não teve acesso aos autos da investigação.
— Suas versões mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade — destacou Bialski.
Primeiro depoimento
Delgatti também foi ouvido pelos investigadores na última quarta-feira (16). Na ocasião, afirmou ter recebido R$ 40 mil da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para invadir o sistema do CNJ e inserir falsos documentos no Banco Nacional de Mandados de Prisão, entre eles, um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A deputada nega as acusações.
Delgatti na CPI
Na quinta-feira (17), o hacker compareceu à Comissão Parlamentar Inquérito (CPI) que apura os atos de 8 de janeiro, dia em que golpistas invadiram e depredaram as sedes dos três poderes.
À CPI, Delgatti disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu a ele, por telefone, que assumisse a autoria de um suposto grampo contra o ministro Moraes. Segundo o hacker, Bolsonaro teria prometido lhe conceder um indulto, ou seja, o perdão presidencial, caso o Poder Judiciário decretasse sua prisão.
Ainda à Comissão, Delgatti também afirmou que “orientou” os militares responsáveis por produzir o relatório das Forças Armadas sobre a segurança das urnas eletrônicas eleitorais que o Ministério da Defesa entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 9 de novembro de 2022.