O Brasil não vai vender mais empresas estatais, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à rede de televisão estatal chinesa CCTV. Ele esteve no país asiático entre quarta (12) e sexta (14) para impulsionar os laços econômicos com seu principal parceiro comercial. Neste sábado (13), ele está em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
Na entrevista ao veículo chinês, o petista defendeu ainda transações comerciais entre países sem passar pelo dólar, a busca de uma solução para a guerra da Ucrânia e a criação de uma nova forma de governança mundial, em que países como China, Brasil e México tenham mais voz.
— Não queremos ser vendedor só de commodities ou vendedor de empresa estatal — afirmou Lula, segundo transcrição da conversa liberada pelo governo brasileiro. — O que o Brasil quer propor à China é que nós precisamos construir uma centena de coisas novas. Que passa por rodovia, por ferrovia, por portos, aeroportos, que passa por novas indústrias, que passa por empresas de química, que passa por investimentos novos.
É o que Lula vem chamando de reindustrialização do Brasil. O presidente defendeu na conversa com a imprensa chinesa, como já havia dito em outras ocasiões durante a viagem ao país asiático, que é preciso avançar na relação do Brasil com a China, não apenas na questão econômica e na questão comercial, mas em temas como ciência e tecnologia, convênios entre as universidades e na transição energética.
— Nós precisamos estabelecer uma política em que a China se transforme em parceiro de investimentos no Brasil.
Sobre reformas em organismos multilaterais, que Lula já havia defendido na viagem durante discurso na posse de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento, o petista afirmou que é preciso dar mais representatividade ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
— Eu acho que tem que ter países da América do Sul, América Latina, países da África. Não é possível, que o continente africano com 54 países não possa ter representante — afirmou. — Se você não tiver um Conselho de Segurança da ONU com autoridade de decidir, e os países signatários cumprirem, não vai resolver o problema climático no mundo.
O presidente mencionou alguns países que estão crescendo e, segundo ele, começando "a assustar aqueles que se sentiam o dono do mundo".
— A única coisa que eu quero é o seguinte: é preciso criar uma nova forma de governança mundial. (...) A China tem que ser levada em conta. O Brasil tem que ser levado em conta. Um país como a Nigéria, como o Egito, como México, tem que ser levado em conta. A Índia tem que ser levada em conta.
Sobre a guerra na Ucrânia, o presidente brasileiro disse estar "obcecado" em conversar com as pessoas pelo mundo para encontrar um jeito de alcançar a paz. Ele defendeu que países parem de fornecer armas para o conflito e que busquem uma solução de paz. Em outra declaração, na mesma viagem, Lula mencionou os Estados Unidos e países da União Europeia quando abordou o mesmo assunto.