Recluso no Palácio da Alvorada há duas semanas, desde que foi derrotado nas eleições presidenciais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) delegou ao seu vice, Hamilton Mourão, a tarefa de receber as cartas credenciais de embaixadores estrangeiros. A justificativa, segundo o senador eleito pelo Rio Grande do Sul, é de que o presidente está com uma ferida na perna que o impede de colocar uma calça. As informações são do portal O Globo.
A cerimônia, que geralmente conta com a participação do chefe do Executivo, foi realizada na manhã desta quarta-feira (16) no Palácio do Planalto.
— É questão de saúde. Está com uma ferida na perna, uma erisipela. Não pode vestir calça, como é que ele vai vir para cá de bermuda? — afirmou o vice-presidente.
Mourão disse que não tem conversado com o presidente e que Bolsonaro não pediu diretamente a ele para participar da cerimônia, mas que mandou um "recado".
Bolsonaro segue no Alvorada, sem aparições públicas. Inicialmente, a agenda dele previa um encontro com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, às 15h. A agenda, contudo, foi atualizada e não há mais qualquer compromisso previsto. Desde o resultado da votação, em 30 de outubro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito, o atual presidente da República só esteve no Planalto duas vezes.
No Alvorada, o presidente tem recebido alguns ministros, assessores e políticos aliados. Nesse período, Bolsonaro fez apenas duas declarações públicas — um pronunciamento e um vídeo publicado em redes sociais — e deixou de fazer as suas tradicionais transmissões ao vivo semanais.
Tradição diplomática
Na tradição diplomática, a apresentação da carta credencial formaliza o início do trabalho de um embaixador no país. Nesta quarta-feira, um dos representantes estrangeiros recebidos no Planalto foi o embaixador da Argentina, Daniel Scioli.
Ele já havia sido embaixador no Brasil por um ano e meio, mas deixou o cargo em junho para assumir o Ministério do Desenvolvimento Econômico. Em julho, contudo, deixou a pasta e foi indicado novamente ao posto diplomático em Brasília.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, é aliado de Lula. Fernández visitou o petista em São Paulo um dia após o segundo turno da eleição, e estava acompanhado de Scioli.
Também foram recebidas as embaixadoras do México, Laura Esquivel; da Dinamarca, Eva Bisgaard Pedersen; e da Finlândia, Johanna Karanko, entre outros representantes estrangeiros.
Bolsonaro "reaparece" no Twitter
Bolsonaro usou o Twitter nesta quarta-feira para divulgar outros canais oficiais de comunicação, em meio ao "sumiço" do chefe do Executivo das redes neste mês. Ele reduziu drasticamente a constância de postagens em diversas plataformas após ser derrotado na eleição presidencial. O espaço entre a publicação mais recente e a anterior foi de oito dias.
Antes usuário constante das redes sociais, o presidente passou a publicar pouco, após a derrota, e, geralmente, imagens sem legenda nem contexto. Foram apenas três postagens no Twitter após a derrota nas urnas, incluindo a mais recente, ante um histórico de atividade intensa na plataforma. Para efeito de comparação, seu perfil teve 33 publicações só no dia 29, véspera do pleito.
No Facebook, outra plataforma em que o presidente costumava ser bastante ativo, foram feitas somente quatro publicações após o segundo turno, sendo que uma delas foi a transmissão de seu pronunciamento, no dia 1º, após a formalização do resultado das urnas. Outra foi o vídeo pedindo o fim dos bloqueios nas estradas, e uma terceira, uma foto sem legenda que mostra o presidente segurando uma bandeira do Brasil.
Na publicação desta quarta-feira, Bolsonaro divulgou canais que, segundo ele, têm atualização diária, como Telegram, contrapondo a percepção de que ele se afastou das redes. Contudo, esses canais são majoritariamente de compartilhamento de notícias ligadas ao governo e não têm a interação típica do presidente com usuários no Twitter, por exemplo.