A Brigada Militar identificou 33 pessoas suspeitas de liderar, organizar ou financiar as manifestações contra o resultado das eleições presidenciais com atuação no Rio Grande do Sul. GZH teve acesso com exclusividade a um ofício assinado pelo comandante-geral da Brigada Militar, coronel Claudio dos Santos Feoli, enviado na segunda-feira (14) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), detalhando o perfil de cada um.
Também foram identificados veículos utilizados nas manifestações e seus proprietários. Com isso, a Brigada Militar presta informações à corte após, cumprindo decisão do ministro de 7 de novembro que mandava fazer as devidas identificações.
No documento de 91 páginas, a Brigada Militar junta fotos das manifestações e detalha cada bloqueio de via ocorrido no Rio Grande do Sul. O levantamento do setor de inteligência foi feito por cada comando regional da corporação e unificado. A maior parte dos líderes foi identificada na região da Serra gaúcha, 20 dos 33. Os demais foram identificados nas regiões do Sul, Alto Jacuí, Fronteira Oeste e Litoral. Também há uma identificação de líderes, organizadores ou financiadores em rodovias estaduais pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM). Não há nomes conhecidos do grande público, como no ofício da Polícia civil gaúcha enviado ao STF com a identificação de pessoas que estariam estimulando as manifestações, também obtido com exclusividade por GZH.
Quem são os identificados e o que dizem
Serra
Foram identificados 20 líderes, organizadores ou financiadores:
Alessandro Júlio de J Viterbo de Oliveira: "Recebo com estranheza essa informação, mas curioso para saber como meu nome foi parar nesta lista. Sobre as manifestações pacíficas contra a possibilidade de fraude nas eleições: não sou organizador nem financiador, assim como, nenhum dos que estão nas ruas podem ser mencionados como organizadores, líderes ou financiadores. Como todos que vão aos quartéis, pontos de apoio ou de manifestação sou um simpatizante pela transparência nas eleições. E sendo assim, que os órgãos responsáveis liberem o código fonte, após isso, sem dúvida as milhares de pessoas de bem e ordeiras que estão nas ruas massivamente irão para suas casas. Tenho publicado nas minhas redes sempre que posso toda movimentação que ocorre aqui desde a noite que acabou o segundo turno. Se quiser pode compartilhar para que mais gaúchos saibam que não estão sozinhos na indignação de ter um ex-condenado para comandar o país."
Daniel Souza dos Santos: "Não sou um dos líderes, no máximo o que eu faço é chamada nas redes sociais para as pessoas participarem. Muito menos financiamento. Ninguém financia a manifestação. São feitas doações espontâneas de água e alimentos por parte da população. Ninguém lá recebe um centavo sequer."
Fabricio Alberto Priori: "Na verdade, estávamos todos juntos ali. Não sei se é viável colocar como líder porque eu não organizei nada. Fizemos manifestação aqui na ERS logo depois das eleições, na segunda e terça-feira (31/10 e 1/11). Mas não liderei ou organizei nada."
Fausto Arecio Viterbo de Oliveira: posta quase diariamente vídeos e fotos no seu Facebook com as manifestações. Não atendeu ao pedido de contato pelo Facebook.
Franco Zanetti Facchin: dono da empresa Facchin Importadora e Exportadora, de Garibaldi. Na quarta, a secretária informou que eles tinham “horários específicos” em que podiam contatá-lo. Acreditava que só nesta quinta-feira teria um retorno. Foi enviado um e-mail com a solicitação de resposta. Nesta tarde, Facchin enviou a nota que segue: "Tão logo soube da vinculação indevida da minha identidade como organizador, imediatamente acionei minha assessoria jurídica e ingressei antecipadamente no processo esclarecendo os fatos de como realmente ocorreram. Reafirmo, não sou organizador, não sou financiador e como cidadão brasileiro me fiz presente na ocasião, como centenas de outros e nada mais. Também me surpreende agora a associação do meu nome como organizador de manifestação contrária à lei, o que reitero que não sou, muito menos financiador, apenas me considero cidadão de bem, patriota, que, irresignado com o resultado das eleições fiz-me presente em uma das manifestações e unicamente por algumas horas na noite em que anunciado o resultado daquelas, tão somente isto e nada mais, razão pela qual não me conformo que eu, como empreendedor, pai de família, cidadão de bem, tenha meu nome e de minha empresa veiculados de tal e séria maneira como estão fazendo, por não ser verdade."
Deste momento em diante, somente me manifestarei nos autos do processo judicial respectivo, posto que é de lá que devem ser extraídas as verdadeiras informações sob o crivo do contraditório.’
Gilberto de Toni: “Recebo com estranheza suposta acusação, uma vez que não sou organizador, líder, tampouco financiador de qualquer manifestação. Desconheço o teor de tal ofício, por esse motivo, solicito acesso ao documento onde supostamente meu nome é citado.”
Gilberto Zanotto: "A questão de financiar a manifestação não existe, pelo menos não da minha parte. O que aconteceu é que eu estive lá como eleitor. Como sou de partido de direita, não concordo com o processo eleitoral. As manifestações foram no trevo do Paraí. Foram paradas conscientes, perguntávamos se os motoristas dos carros e caminhões queriam aderir ao movimento. Eu aceitei o convite de um grupo que estava por aí, mas eu não ajudei a organizar as manifestações e muito menos financiar. Eu fui lá como cidadão e eleitor que está em desacordo com a maneira que foi realizado o pleito, não promovi."
Hiago Stock Morandi: advogado enviou nota como resposta: “O Sr. Hiago Morandi não recebeu até o momento qualquer intimação a respeito da inclusão ou apontamento como líder de qualquer movimento. Assim, tendo em vista o desconhecimento do teor da denúncia não há possibilidade de emitir comentário a respeito”.
Jatir Zanetti: “Eu estou junto ali nas manifestações em frente ao quartel de Bento Gonçalves, mas eu não sou o líder. Estou participando faz uma semana, mais ou menos. Durante o dia eu trabalho, então quando sobra tempo eu vou lá, mas eu não lidero nada.”
Rodrigo Pilotti: não atendeu ao pedido de contato pelo Facebook.
Sidnei Consalter: não atendeu ao pedido de contato pelo Facebook.
Venícios Vigollo: agricultor, de São Jorge. Contatado, não respondeu.
Wiliam Vigolo: agricultor, de Sao Jorge. Confirmou que estava nas barreiras nas estradas da Serra. Disse que os caminhões só eram obrigados a parar 15 minutos. "Fiz isso porque penso no meu futuro. Não aceito um ladrão na Presidência".
GZH segue tentando contato com os demais citados da região: Daniel Roberto Piva, Joel de Oliveira Ribeiro, Leandro Santi, Maurício Andrei Frizon, Paulo José Rieffel Pereira, Rudimar Pazzagnol e Vilmar Luis Viciniescki.
Alto Jacuí
Não foram identificados líderes, mas veículos usados nos bloqueios e seus proprietários.
Fronteira Oeste
Além e veículos usados nos protestos e seus proprietários, foram identificados como líderes ou organizadores de manifestações:
Cleber Michels Soares: de Uruguaiana. Foi identificado como um dos organizadores de manifestações em frente a quartel do Exército. Ele conversou com a reportagem e disse acreditar ser um engano. "Tem muita gente lá, não é um movimento centralizado". Não quis comentar mais a respeito.
Hingridy Kahula dos Santos Almeida: de Uruguaiana. Não foi localizada.
Marcelo Silva Jardim: de Uruguaiana. Não foi localizado.
Litoral
Uma pessoa foi identificada como líder ou organizador de manifestação.
GZH segue tentando contato com André Oliveira Machado, citado na lista.
Sul do RS
Além de veículos usados nos protestos e seus proprietários, foram identificados como líderes ou organizadores de manifestações Claudiomiro Araújo Campos, Juliano Machado Menaides e Márcio Pereira Feijó. GZH segue tentando contato com os citados desta região.
Área do Comando de Policiamento da Capital (CPC)
Não foram identificados líderes no protesto em frente ao Comando Militar do Sul, no Centro de Porto Alegre. No entanto, uma lista de 19 veículos e seus proprietários foi encaminhada ao STF.
Rodovias estaduais
Além de veículos usados nos protestos e seus proprietários, foram identificados como líderes ou organizadores de manifestações em rodovias estaduais:
Gerson Henrique Brixius: sócio de empresa de terraplenagem em Venâncio Aires. Teria liderado bloqueios de rodovias no Vale do Rio Pardo. Ele confirmou isso, mas negou ser líder. "Entre meus princípios está não aceitar um ex-presidiário como presidente da nação. E quem bloqueou a rodovia são vários. Uma andorinha só não faz verão", argumentou.
Jorge Francklin Correia Navarra: pecuarista, foi identificado como líder de bloqueio de rodovias em Itacurubi, nas Missões. Não respondeu ao pedido de contato pelo Facebook.
Silvio Benhur Rocha Ramos: conforme registro de ocorrência pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), teria ameaçado motoristas de quebrar o para-brisa do caminhão, caso ultrapassassem barreira em Manoel Viana. Foi procurado por GZH, mas não se pronunciou.
GZH segue tentando contato com os demais citados pelo CRBM: Everson Luciano Fagundes Santos, José Ibanêz Nogueira e Luiz Paulo Souza de Souza.