Mesmo com o silêncio da maioria dos seus líderes, o racha do MDB gaúcho fica exposto nas reflexões dos poucos que vêm a público. No atual cenário, o pré-candidato da legenda ao Palácio Piratini, Gabriel Souza (MDB), declara que continua no páreo. A direção nacional do partido, por sua vez, insiste para que haja abertura de diálogo e composição com o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que será candidato à reeleição. Esse foi o saldo de uma reunião entre Gabriel e o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, realizada na terça-feira (14), em São Paulo.
Entre os defensores do apoio a Leite, o argumento é de que ter duas candidaturas do centro democrático ao Piratini irá repartir forças e beneficiar as chapas de direita e esquerda, seja na eleição estadual ou na federal. Na avaliação dessa ala, um palanque único liderado por Leite reforçaria a candidatura presidencial de Simone Tebet (MDB), apoiada pelo PSDB, uma esperança do MDB para quebrar a forte polarização no pleito nacional. O grupo favorável a Leite entende que o momento histórico, demarcado por radicalismo, requer uma análise que vá além de se aferrar ao discurso “passional” de que o MDB gaúcho sempre teve candidatura própria e, portanto, deve ter novamente.
Por fim, argumentam que uma candidatura de Gabriel, se confirmada, estaria esvaziada e com parcos aliados pela presença de Leite no centro democrático. Uma chapa majoritária enfraquecida, dizem, reduziria as bancadas da sigla na Assembleia e na Câmara. Nos bastidores, a análise é de que Gabriel seria simpático a uma composição com Leite, sendo ele possivelmente candidato a vice, mas o emedebista está encurralado pela feroz oposição ao acordo feito pela militância, pela juventude e por setores da velha guarda. Neste cenário, Gabriel temeria fazer esse movimento de coligação e sair do processo fustigado internamente.
— Continuo dizendo que vai ser um erro histórico a divisão do centro. O MDB tem responsabilidade de analisar esse novo quadro (após confirmação da pré-candidatura de Leite) e tomar uma decisão o mais rápido possível — diz o ex-governador Germano Rigotto, atualmente coordenador do plano de governo de Simone, um dos poucos a se manifestar publicamente.
Na oposição ao acordo com Leite, quem decidiu se expor foi o atual vereador de Porto Alegre Cezar Schirmer, nome influente da velha guarda do MDB. Ele defende a teoria de que o primeiro turno é hora de cada partido mostrar a sua cara e o seu programa. No segundo, se for o caso, busca-se a composição com quem tiver proposta semelhante. Entende que ter dois palanques em nada atrapalha a candidatura nacional de Simone e que coligar com o PSDB irá reduzir as bancadas do MDB na Assembleia e na Câmara. Ao decidir falar, foi contundente nas palavras.
— Não ter candidato a governador é uma traição à nossa história e à grandeza do MDB. Um crime contra o nosso futuro. Infelizmente, tenho divergido da condução local na sucessão estadual e também vou divergir da tentativa nacional de impedir o MDB de ter candidato a governador — afirma Schirmer.
Ele ainda cobra que a sigla seja coerente e, tendo a pré-candidatura de Gabriel ao Piratini, deixe todos os cargos que ocupa no Palácio Piratini, comandando desde o final de março por Ranolfo Vieira Júnior, do PSDB.
Na fratura que atinge o MDB gaúcho, posições como a de Schirmer são acusadas pelos antagonistas, nos bastidores, de pró-bolsonarismo. Antes mesmo de ter sido questionado pela reportagem sobre o assunto, Schirmer tomou a iniciativa de rebater.
— Sou a favor da candidatura da Simone à Presidência. Isso é inquestionável. A vida inteira nós, do MDB gaúcho, lutamos para ter candidato a presidente. Não é agora que eu mudaria de posição. Não quero apoiar Bolsonaro nem Onyx (Lorenzoni, candidato do PL ao Piratini). Tenho 50 anos de MDB. Me dou com o Onyx, ele se formou em Santa Maria, foi meu contemporâneo. As pessoas confundem relação com apoio. Sabemos que estão dizendo isso à boca pequena — rebate Schirmer.
O impasse segue no MDB, enquanto outros partidos vão se aproximando de Leite e cobiçando os espaços mais privilegiados da coligação majoritária, notadamente os postos de vice e ao Senado.
Embora as siglas possam encaminhar os seus pré-candidatos em decisões prévias no diretório, na direção executiva ou em pré-convenções, é somente na convenção estadual que o rumo eleitoral é definido de forma oficial. E Schirmer tem mantido disposição de se inscrever candidato ao Palácio Piratini na convenção do MDB estadual, pré-agendada para 31 de julho, o que tornaria o cenário imprevisível e manteria o clima de guerra fria até o final.