Documentos obtidos pela Folha de S.Paulo mostram que a Receita Federal teria mobilizado por quatro meses uma equipe de cinco servidores para apurar uma acusação feita pelo senador Flávio Bolsonaro. O parlamentar alegava que teve dados fiscais acessados e repassados de forma ilegal ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o que deu origem ao caso das "rachadinhas".
Segundo a publicação, em 25 de agosto de 2020, o filho do presidente Jair Bolsonaro requisitou apuração "com máxima urgência" para identificação de "nome, CPF, qualificação e unidade de exercício/lotação" de auditores da Receita que, segundo ele, desde 2015 acessaram seus dados fiscais, de sua esposa, Fernanda, e de empresas a eles relacionadas.
As 181 páginas do processo — ao qual a Folha teve acesso — mostram que, de outubro de 2020 a fevereiro de 2021, a Receita deslocou dois auditores-fiscais e três analistas tributários para fazer a apuração. Coube ao coordenador do Grupo Nacional de Investigação do órgão, Luciano Almeida Carinhanha, deslocar os servidores para realizar a análise preliminar do caso, em um prazo de 180 dias.
A investigação concluiu pela improcedência das teses defendidas por Flávio. Entre outros pontos, a análise mostrou que os dados do relatório de inteligência do Coaf não tinham nenhuma informação estranha àquele órgão e que "todo e qualquer acesso aos sistemas e bancos de dados fiscais possuem registros de quem efetuou e de quando foi realizado", não existindo, portanto, o alegado "manto da invisibilidade".
Procurados pela Folha de S.Paulo, a Receita Federal, o senador Flávio Bolsonaro e a defesa dele não se manifestaram sobre a reportagem.