O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e almirante da Marinha do Brasil, Antônio Barra Torres, rebateu a declaração do presidente Jair Bolsonaro que questionou o interesse da Anvisa por trás da aprovação da vacina contra covid-19 para crianças. Em nota divulgada na noite deste sábado (8), Barra Torres disse que, caso Bolsonaro tenha informações que "levantem o menor indício de corrupção" contra ele, "não perca tempo nem prevarique" e "determine imediata investigação policial".
"Vou morrer sem conhecer riqueza, senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso à frente da Anvisa", afirma em um trecho da nota. O diretor-presidente da agência ainda pede que o presidente da República se retrate caso não tenha essas informações.
Na quinta-feira (6), em uma entrevista, Bolsonaro perguntou qual era o interesse da Anvisa e de pessoas chamadas por ele de "taradas por vacina" na aprovação do imunizante da Pfizer para a faixa etária de cinco a 11 anos.
— Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina? — afirmou o presidente na ocasião.
Leia a íntegra da nota divulgada pela Anvisa à imprensa
"Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres
Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram (sic) que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário."