Os três pré-candidatos do PSDB à Presidência da República em 2022 procuraram se distanciar da postura do governo Bolsonaro na esteira da aprovação da PEC dos precatórios, durante debate promovido pelo Estadão nesta sexta-feira (12). Ao responder sobre a posição do partido na votação da pauta na Câmara, os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) elevaram o tom, enquanto Arthur Virgílio (AM) prometeu resgatar as políticas de responsabilidade fiscal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ao responder sobre a postura do partido em relação à PEC dos precatórios, Doria chamou de "execrável" a proposta defendida pelo Palácio do Planalto que muda a regra do teto de gastos com o objetivo de abrir espaço no orçamento do governo para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400.
— Não faz sentido um partido que criou a Lei de Responsabilidade Fiscal ter posições dúbias ou posições para apoiar o rompimento do teto e da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pela mesma razão Dilma teve seu impeachment declarado pelo Congresso — disse Doria.
Na sequência, ele provocou Eduardo Leite ao lembrar que parlamentares próximos do rival atuaram ao lado do governo na votação.
De 32 deputados da bancada, 21 votaram favoráveis à PEC. Doria ressaltou o posicionamento da bancada paulista, que votou majoritariamente contra a PEC.
Leite rebateu lembrando que o PSDB conta com apenas dois deputados do Rio Grande do Sul na bancada federal e que sua liderança tem foco na Assembleia Legislativa do Estado.
— O João acabou de falar sobre os deputados que ele comanda. Isso deixa clara a diferença do nosso tipo de atuação. Eu não comando deputados, eu busco convencer com argumentos, e sempre convenci a fazer as coisas certas e do jeito certo — afirmou.
O ex-senador Virgílio também questionou Leite sobre a posição dos deputados gaúchos.
— Não deixe que lhe preguem a fama de bolsonarista — afirmou.
No intervalo das prévias, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o tema debatido pelos governadores fragiliza o partido como um todo.
— Minha expectativa é que quando tivermos escolhido um candidato a presidente, que ele se tome de legitimidade para tratar com muito mais força de uma posição do partido nessa questão. Todos os partidos perderam controle na relação direta com as bancadas — disse.
Responsabilidade fiscal
A responsabilidade fiscal costuma ser levantada como uma bandeira do partido. Arthur Virgílio defendeu reinserir o tripé macroeconômico, que balizou o governo de Fernando Henrique Cardoso: responsabilidade fiscal, controle da inflação através de metas e câmbio flutuante com manejo do banco central. O ex-senador também ressaltou que em um possível governo dele, não haverá espaço para as emendas de relator.
Em resposta à mesma pergunta, Leite ressaltou que a responsabilidade com as contas deve estar atrelada à responsabilidade social e disse apostar no crescimento sustentado como alternativa para o combate às desigualdades. Também destacou um projeto de lei que circula na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul que pretende criar um teto de gastos no Estado.
Doria defendeu a desestatização do Estado e usou como exemplo as políticas aplicadas em São Paulo. Também reforçou que é favorável à proteção dos mais pobres e à educação. O governador de São Paulo ressaltou que a reforma administrativa do Estado viabilizou a reabertura de escolas.
— No meu governo, a prioridade número um, ao lado da geração de empregos, será a educação — afirmou.
A votação no colégio eleitoral das prévias do PSDB está marcada para 21 de novembro.
Rejeição
Em mais de uma oportunidade, Leite reforçou a rejeição ao nome de Doria em contraste ao seu, destacada em pesquisas.
— Não estou discutindo se é justa ou injusta a rejeição, é um fato. E ela dificulta para o PSDB se comunicar com a população em uma eleição que já tem dois polos extremos — disse Leite.
Em outro momento no debate, o governador gaúcho insinuou que o PSDB paulista estaria constrangendo prefeitos a favorecer Doria na disputa pelas prévias do partido.
— Há boatos de que você estaria constrangendo prefeitos com condicionamento de assinaturas e até suspendendo filiações de vereadores que declararam apoio (a mim) — disse Leite.
Doria desconversou as acusações de Leite, dizendo que ele estaria "nervoso" e que preferia falar sobre os programas previstos.
— Se tem alguma tensão minha é a de ver meu partido sendo alvo de constrangimento. Isso me deixa nervoso e preocupado com o PSDB — respondeu Leite.
Desmatamento
Os três presidenciáveis concordaram com a possibilidade de um crescimento econômico respaldado na preservação do meio ambiente. Leite afirmou que o governo federal deve garantir a punição de quem desmata. Para ele, o Brasil precisa mostrar para o mundo o compromisso com o desmatamento zero para ganhar credibilidade comercial.
— Não precisa de desmatamento para crescer economicamente — disse.
No mesmo tema, Arthur Virgílio questionou João Doria sobre sua posição a respeito da Zona Franca de Manaus. O amazonense afirmou que é "descabido" advogar contra a manutenção do polo industrial, que, segundo ele, contribui para a preservação da floresta amazônica.
Doria prometeu não advogar contra a zona franca e se mostrou favorável à criação de um fundo ambiental composto pelas empresas que estão na zona franca. Para ele, isso deixaria claro aos brasileiros e ao mundo a contribuição destas organizações com o investimento para manter a floresta.