Opositores de Jair Bolsonaro decidiram fazer no Dia da Independência uma espécie de contraponto às manifestações de apoiadores do presidente. Em Porto Alegre esse ato contrário ao governo federal aconteceu junto com o Grito dos Excluídos, protesto realizado há décadas durante o Sete de Setembro, como contraste aos desfiles que saúdam um Brasil idealizado.
Os atos da oposição foram comandados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), pela Conlutas (outra central sindical), por partidos de esquerda e por entidades representativas de mulheres, LGBTI e indígenas, entre outros. A chuva arrefeceu o entusiasmo e forçou troca de planos. A concentração, que deveria ser uma grande manifestação no meio do Parque da Redenção, aconteceu embaixo do viaduto Dona Leopoldina, cruzamento da Avenida João Pessoa com a Rua Sarmento Leite e Avenida Loureiro da Silva. Quase todos usavam máscara contra o coronavírus.
A manifestação começou tímida, com algumas centenas de pessoas, mas durante a tarde ganhou reforço de estudantes universitários e secundaristas. Ao microfone, instalado junto a um caminhão com auto-falantes, se revezaram cantores e lideranças sindicais, rurais e indígenas. “Fora Bolsonaro” era o grito que encerrava todas as falas.
Cada entidade tinha uma pauta específica, além do coro unânime contra o governo federal. Os indígenas querem que seja mantida a demarcação de áreas que reivindicam como suas – no Supremo Tribunal Federal (STF) está ocorrendo um julgamento que decidirá até que época os indígenas teriam de habitar determinada terra, para ser considerada deles. Feministas protestaram contra o aumento da violência contra a mulher. Estudantes reclamaram do corte de verbas na gestão Jair Bolsonaro. Representantes dos sem-terra discursaram pedindo incremento na ajuda aos assentados da reforma agrária. E sindicalistas xingaram o desmonte da legislação trabalhista.
— Fomos muito prejudicados pela chuva e, ao contrário de outros, não pagamos militantes — ironiza o presidente regional da CUT, Amarildo Censi.
Quando a chuva acalmou, por volta das 14 horas, os manifestantes de esquerda saíram em passeata e foram saudados com panelaços por moradores da Cidade Baixa. Acompanhada por diversas viaturas da Brigada Militar, a caminhada percorreu a Avenida Loureiro da Silva e ruas José do Patrocínio, República e João Alfredo, até culminar no Largo Zumbi dos Palmares. Ali foram realizados novos discursos junto ao caminhão de som.
A passeata foi concluída por volta das 15h30min, com dispersão gradual dos manifestantes, na medida em que a chuva voltava a engrossar.