Prestes a dar origem a um dos maiores partidos do país, DEM e PSL tentam conciliar sob um ideário de direita políticos ressentidos com o governo Jair Bolsonaro, devotos do presidente da República e entusiastas de uma terceira via presidencial. O desafio é construir uma unidade capaz de dar suporte a uma candidatura concebida para quebrar a polarização entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por enquanto, há no grupo três pretendentes à Presidência da República: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM-GO) e o apresentador de TV José Luiz Datena (PSL-SP).
Ainda sem nome e número definidos, a nova agremiação deve ser criada oficialmente em outubro. Até lá, porém, as preocupações com diferenças internas dificilmente estarão sanadas. O comando atual das duas siglas só enxerga um ambiente mais homogêneo em março de 2022, na abertura da janela para migração partidária.
Somadas, as duas bancadas no Congresso têm atualmente 82 deputados e sete senadores, mas a previsão é de que ao menos 25 parlamentares do PSL afinados com Bolsonaro aproveitem a ocasião para deixar a legenda. Para evitar tamanha perda de musculatura, novas adesões já estão sendo negociadas. Como atrativos, os dois presidentes, ACM Neto (DEM) e Luciano Bivar (PSL), acenam com o maior tempo de TV e o maior fundo eleitoral do sistema partidário brasileiro, estimado em R$ 320 milhões.
Há situações que tendem a resultar numa acomodação interna. Um dos casos mais delicados é o do ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni (DEM). Aliado histórico de Bolsonaro, Onyx tem colecionado inimizades dentro do DEM graças à fidelidade ao presidente.
À exceção do diretório gaúcho, onde colocou na presidência o filho Rodrigo Lorenzoni, Onyx não tem praticamente nenhuma influência interna e uma frágil interlocução com o comando nacional. Todavia, sua candidatura é considerada competitiva pelo partido, sobretudo se robustecida pelo tempo de TV e pelos recursos do fundo eleitoral provenientes da nova legenda.
Para surpresa de muitos dirigentes, Onyx compareceu à reunião da executiva nacional do DEM que sacramentou apoio à fusão, na terça-feira (21), em Brasília. Num rápido pronunciamento, o ministro disse que apoiava a iniciativa, desde que o novo partido seja claramente de direita. Onyx salientou sua lealdade a Bolsonaro e sua disposição de concorrer a governador. Ao afirmar que respeitaria a candidatura presidencial da futura legenda, pediu reciprocidade, deixando margem para abrigar Bolsonaro em seu palanque no Estado.
— O ministro Onyx fez a defesa de sua posição pessoal, mas essa não é a posição majoritária do partido. Isso ficou claro. Independentemente disso, falou que, se houver respeito às posições individuais, ele fica conosco. Então esse é o cenário que está sendo construído: cada um respeita a postura do outro. A tendência é mantermos com ele o comando do novo partido no Rio Grande do Sul, mas só haverá definição após a convenção nacional, em outubro — afirma o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (DEM-PB).
A prioridade nas conversas de cúpula é a discussão dos cargos na nova executiva e o controle dos Estados. Por enquanto, está definido que Bivar deve ser o novo presidente e ACM Neto, o secretário-geral. Nos diretórios regionais, primeiro deve ser negociado o controle nos maiores Estados: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Impacto no RS
Nas hostes gaúchas, o cenário é de incerteza. O DEM é mais unido, embora o deputado estadual Thiago Duarte esteja de malas prontas para o Podemos há bastante tempo, enquanto seu colega de bancada, Eric Lins, seguirá o mesmo destino de Onyx. Já no PSL, o atual presidente, o deputado federal Nereu Crispim rompeu com Bolsonaro e não é benquisto por nenhum dos outros sete parlamentares (quatro deputados estaduais e três federais). Colocado no posto por Bivar, Crispim diz que não está acompanhando as negociações pela fusão e que pretende permanecer na nova sigla.
— Ainda não conversei com o Bivar, mas sou comprometido com ele e vou ficar. O PSL é uma direita racional, não é essa loucurada do bolsonarismo — critica Crispim.
Se a nova legenda confirmar o lançamento de uma candidatura presidencial contra Bolsonaro, Crispim deve ser o único dos quatro deputados federais a permanecer. Marcelo Brum, Sanderson e Bibo Nunes pretendem migrar para um partido alinhado à reeleição do presidente da República. Bibo tem conversas avançadas com o PSC, mas diz já ter recebido convites de outras siglas.
— Só fico se o partido apoiar Bolsonaro. Se apoiar outro, saio e ainda deixo de fazer campanha para o Onyx. Na mesma hora apoio o (senador do PP Luis Carlos) Heinze a governador — afirma Bibo.
Bibo tenta convencer Sanderson e Brum a irem ao PSC com ele, mas está mais perto de atrair o deputado estadual Vilmar Lourenço. Os outros três parlamentares com assento na Assembleia Legislativa ainda não definiram seu destino. Ruy Irigaray e Capitão Macedo pretendem esperar o quadro da legenda do Estado ficar mais nítido. Campeão de votos na eleição de 2018, tenente-coronel Zucco flerta com o PP, aspirando à presidência da Casa na próxima legislatura.
O novo gigante
Deputados: 82
- PSL: 54
- DEM: 28
Senadores: 7
- PSL: 1
- DEM: 6
Governadores: 4
- PSL: 2
- DEM: 2
Fundo eleitoral: R$ 320 milhões
- PSL: R$ 199 milhões
- DEM: R$ 121 milhões
Fundo partidário: R$ 138 milhões
- PSL: R$ 98 milhões
- DEM: R$ 40 milhões