Dono da empresa americana Davati Medical Supply, envolvida em negociações suspeitas para a venda de vacinas contra a covid-19 ao Brasil, Herman Cardenas declarou em entrevista exibida na noite deste domingo (1º) pelo Fantástico, da Rede Globo, que teria sido "enganado" pelos parceiros brasileiros e não detalhou qual seria a origem dos produtos oferecidos ao governo federal.
A Davati ganhou atenção recentemente pela tentativa de comercializar 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca ao Ministério da Saúde, em um processo repleto de intermediários e sob investigação da CPI da Covid no Senado. Segundo Luiz Paulo Dominguetti Pereira, PM que atuava como representante da empresa no Brasil, o ex-diretor do Departamento de Logística do ministério, Roberto Dias, de ter cobrado propina de US$ 1 por dose para viabilizar o negócio — que acabou não se concretizando.
Cardenas declarou que seria apenas um "facilitador" na entrega das vacinas ao governo brasileiro e negou que tivesse garantido a disponibilidade do produto. O empresário radicado nos EUA alegou também ter sido enganado pelos brasileiros envolvidos na trama. Entre eles está o representante de vendas Cristiano Carvalho, um dos ouvidos pela CPI.
Conforme o empresário americano, Carvalho lhe enviou uma foto em que aparecia no mesmo ambiente em que o presidente Jair Bolsonaro, com quem teria participado de uma reunião. Mas a imagem e o encontro não eram verdadeiros.
— Cristiano demonstrava estar numa reunião com o presidente do Brasil. Hoje, a gente sabe que a foto deve ser fake. Eu mal posso acreditar que alguém usaria uma imagem de 2019 para dizer que estava presente ali, como se fosse em 2021 — afirmou Cardenas.
Carvalho também teria enviado um currículo em que dizia ter doutorado na renomada Universidade de Harvard, nos EUA, e assinava as mensagens como "professor-doutor". Em resposta a essas alegações, o advogado de Carvalho informou que a foto teria sido criada como uma brincadeira e repassada apenas em um grupo de WhatsApp, e negou que o cliente tenha exagerado o currículo.
O empresário americano, perguntado sobre a origem das doses da AstraZeneca que deveria encaminhar ao Brasil caso a negociação com o Ministério da Saúde avançasse, não explicou como conseguiria os imunizantes - já que o laboratório envolvido garantiu jamais fazer vendas por meio de intermediários. Uma situação similar envolveria imunizantes da Janssen, que também informou não contar com atravessadores. Ao tentar explicar a situação, o responsável pela Davati disse somente que contava com a "alocação" das vacinas, uma espécie de “reserva” a que poderia ter acesso.
Em relação à presença de tantos intermediários no negócio sob muitas suspeitas, o empresário disse que não desconfiou de eventuais irregularidades.
— Quando se vende vacina de gripe, por exemplo, é comum ter três ou quatro intermediários. Um apresenta para outro, que apresenta para outro, que apresenta para outro. Então, não me pareceu estranho — afirmou Cardenas.