Em depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (16), o governador cassado do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse que foi alvo de retaliações por parte do governo federal, em razão de críticas que dirigiu ao presidente Jair Bolsonaro e à administração dele.
— Governo e o presidente começaram a me retaliar. Tínhamos dificuldade de falar com ministros para sermos atendidos. Vi (o ministro Paulo) Guedes em um avião e ele virou a cara e saiu correndo dizendo "não posso falar com você" — relatou o ex-governador, que afirmou ter havido contingenciamento de verbas durante processo de impeachment do qual foi alvo.
Witzel contou ainda sobre um episódio com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro no qual o ex-juiz federal teria passado um "recado" de Bolsonaro. Segundo o relato do ex-governador, Moro disse a ele para "parar de falar que quer ser presidente", a pedido de Bolsonaro.
— Acho que papel de menino de recado não se espera de você que, como eu, é magistrado de carreira — afirmou Witzel sobre o que teria dito ao ex-ministro.
"Descooperação"
O governador cassado do Rio também afirmou que o envio de verbas federais para os Estados enfrentarem a pandemia não foi suficiente. Ele voltou a criticar a falta de cooperação pelo Ministério da Saúde durante o período.
— Cooperação do Ministério da Saúde foi praticamente zero, foi uma descooperação (sic) — disse ele.
Witzel também reclamou do critério na distribuição dos recursos federais aos Estados.
— Envio de verbas contra covid prejudicou Rio e São Paulo e prestigiou Nordeste — declarou.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), rebateu o ex-governador, lembrando que o formato de distribuição foi votado pelo Congresso Nacional, tendo como um dos critérios a sistemática do Fundo de Participação dos Estados (FPE).
— O critério utilizado pelo Congresso pode até não ser bom para os Estados do Sul, São Paulo e Rio, mas o critério foi o fundo de participação dos Estados — disse o senador.
Witzel fez críticas ainda à atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em torno do controle de chegada de estrangeiros nos aeroportos brasileiros.
— Anvisa não estava fazendo o controle. E eu fui duramente criticado porque tomei essa medida, fui chamado de tirano, ditador. Meu decreto proibia o ingresso de turistas no aeroporto — disse ele.