O lançamento da pré-candidatura do senador Luis Carlos Heinze (PP) ao governo do Rio Grande do Sul deflagrou movimentos nos partidos que aspiram ao Palácio Piratini em 2022. Embora a maioria das legendas considere prematuro colocar uma candidatura na rua com tanta antecedência, a definição dos nomes começa a ganhar ritmo, com aceleração da busca por alianças.
A antecipação de Heinze tem por objetivo estabelecê-lo como inquilino do principal palanque do presidente Jair Bolsonaro no Estado. O senador via essa primazia ameaçada pelas pretensões do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM). Nas últimas semanas, eles vinham alimentando uma guerra de versões, sobretudo nos municípios do Interior.
Simpatizantes de Heinze espalhavam que ele seria o candidato de Bolsonaro a governador, encabeçando uma chapa que teria como vice a vereadora Nádia Gerhard (DEM). O ministro reagiu com estratégia semelhante. Reforçando a amizade histórica que mantém com o presidente, Onyx reafirmou a própria candidatura e ainda lançou uma provocação ao especular como vice a secretária estadual da Agricultura, Silvana Covatti (PP), com quem Heinze tem relação atribulada.
Ambos não poupam esforços para atrair o apoio de Bolsonaro. Heinze tornou-se membro titular da CPI da Covid, onde é defensor ferrenho da política do governo no enfrentamento à pandemia. Sem vitrine semelhante, Onyx trabalha nos bastidores, aproveitando a intimidade do Palácio do Planalto e atiçando a militância com a organização do passeio de moto do qual o presidente participará em Porto Alegre, dia 10 de julho.
Tão logo obteve o aval do PP para anunciar a pré-candidatura, Heinze foi comunicar o fato ao governador Eduardo Leite (PSDB). Ressabiado com o episódio de 2018, quando foi forçado pelo próprio partido a renunciar à disputa ao Piratini em prol do tucano, desta vez o senador pretende consolidar seu nome sem abrir brechas a recuos.
Do governador, ouviu que haverá empenho para uma continuidade de sua gestão, de preferência com a manutenção do atual grupo político de sustentação ao governo, formado majoritariamente por PP, PSDB, MDB e PTB.
Todavia, Heinze e Leite sabem que não estarão no mesmo palanque em 2022. Ao abdicar da disputa à reeleição, o governador encorajou o lançamento de candidaturas no MDB e no próprio partido. Sua preferência é pelo atual vice, Ranolfo Vieira Júnior, prestes a migrar do PTB para o PSDB. Apesar disso, quem tem mais chances de herdar a candidatura de situação é o deputado federal Alceu Moreira.
Presidente do MDB no Estado, Alceu mantém prudência. Depois de uma indecisão inicial, está construindo um plano de governo ouvindo prefeitos e ex-governadores do partido. Aos poucos, veste o figurino de candidato, mas não está disposto a sacríficos. Em conversas reservadas, admite que não vai trocar uma reeleição certa à Câmara por uma derrota ao Piratini. Ciente desse vácuo, quem vem se movimentando com desenvoltura é o presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza.
Articulador da ampliação de espaços do MDB no governo, Gabriel atua nas duas pontas, sintonizando o partido com os objetivos de Leite no parlamento e percorrendo o Interior com agenda de candidato. Nas visitas aos municípios, tem o cuidado de visitar hospitais e entidades empresariais, sempre tendo ao lado um deputado da região.
Tanto Alceu quanto Gabriel encontram resistência na velha guarda emedebista, formada sobretudo pelos ex-governadores Pedro Simon e José Ivo Sartori. Alceu é reconhecido pelo histórico e perfil combativo, Gabriel pela ousadia e capacidade de articulação, mas nenhum tem apoio unânime da cúpula. Entre eles, não há disputa, mas um entendimento tácito de apoio mútuo: quem deixar a corrida abraça a candidatura do outro.
Partidos de esquerda
Na oposição, o único nome consolidado é do deputado estadual Edegar Pretto (PT). Vinculado à agricultura familiar e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Pretto tem procurado se aproximar do eleitor urbano se apresentando nas redes sociais com o slogan “uma vida de lutas, no campo e na cidade”. Com a candidatura apadrinhada pelos próceres do partido, deve ter o nome lançado oficialmente em novembro.
Até lá, o PT busca alianças. Já houve conversas preliminares com PCdoB, PSB, PSOL e PDT. Os nomes do PCdoB estão preocupados com a cláusula de barreira e só vão sacramentar seu futuro após a definição da minirreforma eleitoral em discussão no Congresso. Nem mesmo Manuela D’Ávilla, maior liderança da sigla, definiu seu destino eleitoral.
Já o PSB enfrenta uma crise de identidade no Estado, reforçada pela aproximação da cúpula nacional com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O flerte do partido com Lula deve provocar deserções de quadros históricos, como o ex-deputado Beto Albuquerque, e de estrelas em ascensão como as irmãs Franciane e Liziane Bayer.
Nos bastidores, Lula sonha com uma candidatura do ex-governador Tarso Genro. Nos demais partidos de esquerda, a cobiça é pelo passe do ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal. Um dos epidemiologistas mais consultados do país durante a pandemia de covid-19, Hallal recebeu convites de quase todas as legendas de centro-esquerda.
Seu nome foi cogitado inclusive no PDT, que aguarda uma posição do presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, para a montagem de um palanque competitivo para dar palanque no Estado à empreitada presidencial de Ciro Gomes.
O PSOL também terá candidato próprio. Após eleger quatro vereadores e ser o partido mais votado em Porto Alegre na eleição do ano passado, circulam os nomes de Pedro Ruas e Karen Santos, campões de votos à Câmara Municipal, mas a cúpula tem preferência por Roberto Robaina, que já concorreu em 2014 e 2018.
— Todo esse cenário vai evoluindo diante de um eleitor totalmente desesperançado. À exceção de quem já tem um identificação política mais radical à direita ou à esquerda, o grosso do eleitorado está apático, exausto, quase desesperado pelo fim da pandemia. Esse clima de campanha permanente acaba antecipando os movimentos dos partidos, mas o cidadão quer mesmo é solução — afirma a cientista política Elis Radman, diretora do Instituto de Pesquisas de Opinião.