O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta segunda-feira (18), que as Forças Armadas são as responsáveis por decidir se há democracia ou ditadura em um país. Segundo ele, o Exército, a Força Aérea e a Marinha foram "sucateadas" na esteira de uma estratégia para adotar o socialismo no Brasil.
— Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não a apoiam — afirmou o presidente, em conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada.
As declarações repercutiram mal. O tom ideológico do presidente ocorre no momento em que aumentam protestos contra o governo, como panelaços, sua popularidade cai nas redes sociais e há pressão para o impeachment.
— No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar. (...) Como estariam as Forças Armadas com o Haddad no meu lugar? — perguntou o chefe do Executivo, em referência ao ex-prefeito Fernando Haddad (PT), seu rival na campanha de 2018.
Não é a primeira vez que Bolsonaro diz que a democracia depende da vontade dos militares, mas, nos últimos tempos, subiu o tom dessa narrativa. A ameaça vai na contramão da Constituição — pela Carta de 1988, as Forças Armadas estão subordinadas ao poder civil e não têm autonomia para decidir os rumos políticos do país.
— O pessoal parece que não enxerga o que o povo passa, para onde querem levar o Brasil. Para o socialismo. Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo — disse o presidente, que é capitão reformado do Exército, no diálogo com eleitores.
Bolsonaro abriu nova polêmica justamente quando se discute a instalação de uma Comissão Representativa do Congresso, neste mês de recesso parlamentar, para votar a convocação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e projetos relacionados à pandemia do coronavírus.
— O presidente flerta, mais uma vez, com o acirramento na relação com as instituições, o que é muito grave. É uma frase recorrente, muito próxima de desrespeitar a Constituição. Agora volta, no meio da pandemia, num sinal de desespero em relação à completa falta de gestão do seu governo e do seu Ministério da Saúde — disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A instalação de uma comissão do Congresso para se debruçar sobre a crise é uma nova queda de braço, a duas semanas das eleições que vão renovar o comando da Câmara e do Senado. A principal disputa, hoje, é travada na Câmara entre os deputados Arthur Lira (Progressistas-AL), apoiado por Bolsonaro, e Baleia Rossi (MDB-SP), que tem o aval de Maia.
Para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o Congresso e o Supremo Tribunal Federal precisam estar atentos a Bolsonaro.
— Só um cego não percebe o caminho que o presidente está traçando na sua trajetória —destacou.
Seu colega José Serra (PSDB-SP) também se levantou contra o recado de Bolsonaro.
— Trata-se de uma visão autoritária em estado puro. Quem quer a democracia é o povo. E às Forças Armadas cabe servir à democracia. Como, aliás, elas têm feito nos últimos anos —observou o tucano.