Além de apontar as frustrações e expectativas nos principais setores da economia gaúcha, a pesquisa sobre o Rio Grande do Sul no período pós-pandemia aborda o papel da Assembleia Legislativa e dos municípios nos esforços pela recuperação do Estado.
No caso das prefeituras, a percepção dos entrevistados é de que devem incentivar cadeias produtivas, aproximar-se cada vez mais dos governos estadual e federal, pressionar por mais repasses e reforçar a atuação de entidades como a Federação das Associações de Municípios do Estado (Famurs). Atributos como atitude, cooperação e coragem são considerados essenciais em momentos de dificuldades.
— A pandemia escancarou a relevância de prefeitas e prefeitos. Quando surgem problemas, são eles, lá na ponta, que recebem as demandas. Concordo com todos os atributos citados, em especial a coragem. É preciso de coragem para inovar — diz o presidente da Famurs, Maneco Hassen.
Quanto ao Legislativo, os entrevistados indicaram três áreas como prioritárias para a atuação dos deputados (veja o quadro). Chama a atenção, em especial, a reivindicação de 20,5% dos líderes ouvidos por um projeto de irrigação para o Estado, na tentativa de atenuar angústias de produtores rurais e de cooperativas agrícolas, que em 2020 tiveram mais prejuízos com a seca do que com o coronavírus.
Os participantes do censo também foram questionados sobre o que os parlamentares devem evitar no período pós-pandemia. Em primeiro lugar, veio à tona a preocupação em relegar ao segundo plano discussões de fundo ideológico, um indício do cansaço diante de disputas que se revelam inócuas e prejudiciais. O objetivo comum, destacaram os entrevistados, deve ser a união de forças com foco no crescimento econômico.
— É um recado importante, que já temos priorizado na Assembleia. Em um poder plural, é normal haver divergências, mas o Estado tem de estar acima disso. Para construir pontes, tem de haver equilíbrio. O censo nos diz que precisamos de união, de solidariedade, de ponderação e, principalmente, de muito diálogo. Temos de buscar consensos — reforça o presidente da Assembleia, Ernani Polo.
E a gestão pública?
- A percepção de 41% dos entrevistados é de que a população tende a analisar o desempenho de gestores e deputados com a mesma avaliação de antes da pandemia
- Apesar disso, 22,4% deles preveem maior controle sobre os órgãos públicos e os agentes políticos, reforçando a importância da boa administração e da transparência
- Para 28,7%, poderá haver melhorias na gestão da qualidade do gasto. A ideia é “fazer mais com menos”, conciliando austeridade e eficiência no uso do dinheiro
- 14,5% acreditam que o eleitorado estará mais consciente e atento, o que poderá se refletir nas eleições
Disposição ao bem comum
Como será a vida quando tudo isso passar? Haverá maior interesse pela participação política? Essas dúvidas fizeram parte do questionário proposto aos líderes interpelados no estudo. As respostas são promissoras tanto do ponto de vista da cidadania quanto de uma nova forma de organização social.
Para 60,8% dos respondentes, a pandemia desencadeará maior zelo, atenção e olhar crítico sobre as decisões governamentais. Na avaliação de um representante do comércio consultado pelos pesquisadores, isso ocorrerá “porque o governo mudou completamente a forma de vivermos nesses últimos meses”. Para um dirigente do agronegócio, “o pessoal está se informando mais e vai cobrar mais também”.
Perguntados sobre qual será a tendência de organização da vida em sociedade quando a crise sanitária estiver superada, 53,6% dos inquiridos concluíram que o caminho adotado no futuro será o da “solidariedade”.
Nas palavras de um industrial, “as pessoas notaram o quanto elas precisam das outras, e não vai ser um político que vai dizer isso, vai ser justamente o que as pessoas passaram”, percebendo “o quanto faz falta um abraço de um amigo, o quanto faz falta ficar com pessoas que a gente gosta e das quais está sendo privado”.
Atitudes que se tornaram corriqueiras no auge da covid-19 também foram elencadas como um sinal de mudança. Entre os exemplos citados, está a troca de gentilezas entre vizinhos, que ajudaram uns aos outros, em especial os mais idosos e integrantes de grupos de risco, com as compras do supermercado. Há a esperança de que, a partir das dificuldades, as pessoas passem a pensar mais no bem comum.