O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse, nesta quarta-feira (16), que a falta de empenho do governo federal em fazer andar reformas necessárias à retomada dos investimentos no país e a falta de reorganização do Estado gerarão desgaste para a gestão de Jair Bolsonaro a partir de março a abril.
— A impressão que me dá é que o governo (Bolsonaro) não vai mais na linha de reorganizar a despesas públicas. Pois organizar a despesa pública significa um desgaste de curto prazo e um grande benefício de médio e longo prazo. O governo erra quando acha que essas polêmicas de curto prazo atrapalham 2022, mas eu acho o contrário. Esse abandono da política de reestruturação do Estado brasileiro, eu acho que vai gerar muito desgaste no governo já a partir do mês de março e abril — disse ele em entrevista após café da manhã com jornalistas.
Na avaliação de Maia, o que ele classifica como enfraquecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, reflete no atual cenário econômico. Aliás, ao falar de Guedes, o presidente da Câmara deu uma alfinetada, dizendo que nesses tempos de pandemia, enquanto as lideranças da Câmara mostraram liderança, a começar pela PEC do orçamento de guerra, o ministro passou um tempo em sua cidade, no Rio de Janeiro. Para Maia, o enfraquecimento do titular da Economia não é bom para o país, porque as reformas precisam avançar.
— A minha impressão pelos acontecimentos das últimas semanas, dos últimos meses é que o governo vem abandonado aos poucos principalmente as reformas que olham do lado das despesas, principalmente os gatilhos, e acho que a reforma administrativa não terá o mesmo apoio que tem por parte da equipe econômica do resto do governo — disse o democrata.
Ao falar de Guedes, Maia disse que seria bom que tudo aquilo que foi prometido pelo ministro, zerar o déficit primário, modernizar o Estado e reformas pudessem ter avançado mais.
— Mas eu acho que o enfraquecimento do Paulo (Guedes) nos últimos meses também atrapalhou esse planejamento que tinha sido construído, que estava atrasado, por parte do governo, de forma correta pelo ministro da Economia.
Em café da manhã com jornalistas, o presidente da Câmara indagou se Guedes ainda é majoritário ou não no governo.
— O Paulo Guedes está certo em muitas das privatizações, pensa a reforma administrativa. Ele tem uma visão diferente, que eu discordo, do IVA (Imposto sobre Valor Agregado). A minha dúvida é se ele é majoritário no governo, eu acho que não. Meu sentimento é que o Guedes perdeu o comando dessas políticas mais desgastantes, minha impressão é que o governo desistiu daquilo que é polêmico e possa tirar votos — disse, destacando que nessa política, na qual os políticos sempre defenderam de ampliação de gastos, os militares sempre defenderam ampliação de gastos, o ministro perdeu força.
Sucessão na Câmara
Na coletiva desta quarta, Maia falou também do processo sucessório na Câmara dos Deputados. Segundo ele, a eleição para a presidência da Casa tem um importância muito grande, "primeiro porque a gente viu que se não fosse a liderança do Congresso Nacional, da Câmara, do Senado, nada teria entrado de votações relevantes no nosso país. Então, o Congresso Nacional em um governo mais desorganizado, que desrespeita as instituições, o papel do presidente da Câmara e também do Senado é determinante".
Na avaliação de Maia, é importante a construção de um movimento que seja o mais amplo possível, que reafirme a importância da democracia, da independência da Câmara e que possa ter um candidato que represente a todos.
— Que não seja um candidato que represente apenas o que eu acredito, ou o que o meu partido acredita, ou o outro partido, mas que represente todo esse movimento que quer a Câmara livre de qualquer interferência de outro poder. Por isso que está demorando um pouco, mas acredito que a gente tenha a condição de tentar avançar um bloco maior, é a nossa tentativa, e também da constituição de um nome que represente de forma mais ampla os deputados e as deputadas da Câmara dos Deputados. Se a gente conseguir construir esse campo amplo, nós acertamos, se nós não conseguirmos, nós atrasamos a escolha do candidato e vamos ter que correr atrás dos votos individualmente. Então é uma questão estratégica — disse.