Em entrevista ao Timeline Gaúcha nesta quinta-feira (3), o procurador da República Deltan Dallagnol falou sobre a sua saída, após seis anos, da coordenação da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba. E, ao comentar o atual momento político do Brasil, Dallagnol fez críticas à atuação do governo Bolsonaro no combate à corrupção.
— Ele (governo) entrou com a bandeira de combate à corrupção, mas o que temos visto é um retrocesso imenso — disse.
A saída de Dallagnol foi anunciada na terça-feira (1º). Segundo o procurador, nesta quinta-feira, o motivo para deixar a força-tarefa é 100% pessoal: sua filha de um ano e 10 meses está passando por uma série de exames e acompanhamentos por conta do desenvolvimento, devendo começar uma série de terapias e tratamentos.
À frente da Lava-Jato, Deltan Dallagnol assinou diversas denúncias da operação contra empresários e políticos. Entre elas, estão as feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos últimos meses, no entanto, foi alvo de contestações no Conselho Nacional do Ministério Público, inclusive com pedidos de remoção compulsória.
Indagado sobre pressões para deixar o cargo, ele admite que a força-tarefa sofreu "reveses" ao longo dos seis anos:
— Sempre foi difícil e a gente sabia. (...) Tem várias regras que intimidam a gente. Nesse ambiente, conforme o apoio expresso foi diminuindo, por cansaço, outras pessoas (contrárias a força-tarefa) foram ficando à vontade. A gente teve reveses. A gente precisa defender as instituições. Defender o fechamento seria uma crítica destrutiva — avaliou.
Dallagnol criticou o procurador-geral da República Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que apesar da Lava-Jato "ter êxitos obtidos e reconhecidos pela sociedade, não é um órgão autônomo e distinto do Ministério Público Federal (MPF)" e se referiu às forças-tarefas como "clandestinas".
Aras foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) exigir acesso ao banco de dados da operação, que contém informações sigilosas sobre os investigados, mas a investida foi barrada pelo ministro Edson Fachin, relator do caso na Corte. Aras deve decidir ainda esse mês sobre a prorrogação das forças-tarefas, ao mesmo tempo em que tramita na Procuradoria-Geral da República um projeto para unificar os grupos sob uma coordenadoria em Brasília.
— O procurador-geral trouxe críticas e quando ele vem e fala que forças-tarefas são clandestinas, isso é equivocado. Foi a própria Procuradoria-Geral que criou e prorrogou as forças-tarefas — argumentou.
— Existe muito trabalho sendo feito e isso precisa continuar. (...). Esperamos que o governo resgate a bandeira e mostre por atos aquilo que pregou por palavra — completou.
Dallagnol será substituído pelo procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira, que atualmente faz parte do grupo de trabalho da Lava- Jato da Procuradoria-Geral da República (PGR), chefiado pela subprocuradora-geral Lindôra Maria Araújo.