Com seis pretendentes ao posto de vice na sua chapa à reeleição, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB) fez uma escolha que dividiu o maior partido da coligação governista. Ao indicar o presidente do PP, vereador Roger Ney, Paula acentuou o racha na sigla aliada, cuja candidatura própria havia sido referendada no início do mês.
Agora, as duas alas do PP irão se enfrentar em convenção, marcada para 1º de setembro. Na ocasião, os 45 membros do diretório irão subscrever a indicação de Ney ou confirmar a candidatura do ex-prefeito e ex-deputado Fetter Júnior.
Eleita no primeiro turno com 60% dos votos em 2016, Paula governou com um amplo leque de alianças. Da união, surgiram seis postulantes a vice: dois do PTB, um do PP, um Cidadania, um do PL e um do PSL. Para evitar fissuras ou descontentamentos com uma escolha trivial, a prefeita decidiu submetê-los a uma pesquisa qualitativa e testes de vídeo. Após as aferições, na sexta-feira ela anunciou a preferência por Ney, vereador em terceiro mandato e um fiel aliado desde a campanha passada.
O PP, contudo, já havia realizado pré-convenção em 2 de agosto. Na ocasião, os dirigentes da sigla se manifestaram pela candidatura de Fetter Júnior por 28 a 2. A reunião, convocada à revelia de Ney mas obedecendo o regramento estatutário da legenda, acabou questionada na Justiça. Ney chegou a obter liminar suspendendo os efeitos da pré-convenção, mas a decisão foi anulada pelo próprio juiz no mesmo dia, após confirmação do respeito às regras internas da legenda.
— Vejo essa escolha pelo Roger Ney com muita surpresa. Alguns dizem que é desespero da prefeita. Os membros do PP já disseram não, mais de uma vez, mas ela insiste. Agora vamos decidir na convenção – comenta Fetter.
Prefeito de 2005 a 2012, Fetter foi o responsável pela montagem da nominata de candidatos a vereador do PP, primeira instância do partido a conclamar candidatura própria. Em 2016, ele também havia capitaneado a rebelião interna que tirou o PP da coligação encabeçada por Paula. À época, o partido apoiou o candidato do PDT, Anselmo Rodrigues.
Descontente, Roger Ney ficou do lado de Paula, não apareceu na propaganda de rádio e TV para não exibir o nome do adversário e ainda assim foi o único vereador eleito pelo PP. Passada a eleição, o partido voltou para o governo e hoje detém a maior fatia do secretariado, com cinco pastas, espaço maior do que PSDB de Paula, que detém quatro.
- O Roger se saiu bem na pesquisa e foi leal ao projeto na eleição passada. A escolha tem esse reconhecimento também. O PP sempre manifestou desejo de estar na chapa. Estivemos juntos nos últimos 15 anos no governo, não faz sentido essa divisão. Mas respeito o direito deles e vou aguardar a decisão – diz Paula.
Com o anúncio da escolha de Roger Ney, PTB, PL e Cidadania retiraram as pré-candidaturas a vice-prefeito. Na aliança de nove partidos, somente o PSL manteve a indicação do presidente da sigla, Henrique Pires, ficando como alternativa para a chapa caso a convenção do PP reafirme a candidatura própria. Procurado, Roger Ney não foi localizado.