Com mais de cem candidatos a prefeito no Estado, o PTB gaúcho pretende conversar com a direção nacional do partido para reverter a diretriz que restringe as alianças nas eleições 2020. O diretório local cancelou uma reunião na qual discutiria o assunto nesta terça-feira (25) e agora aguarda a confirmação de uma videoconferência agendada para amanhã com o presidente da sigla, o ex-deputado Roberto Jefferson.
Conforme determinação do dirigente, os trabalhistas estão proibidos de se unir a partidos de esquerda, bem como ao PSDB e ao DEM. O veto faz parte da guinada ideológica que Jefferson está impondo à legenda, na tentativa de alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro.
— Quem tentar (se aliar a esses partidos), vai enfrentar o Roberto Jefferson – ameaçou o ex-deputado em vídeo postado nas redes sociais.
Jefferson anunciou uma proibição geral, mas depois disse que os diretórios de cidades com mais de 200 mil eleitores terão de obter anuência prévia da executiva nacional para formalizar essas alianças. Para os membros do diretório estadual, não ficou claro a amplitude da normativa.
O Rio Grande do Sul é uma das fortalezas eleitorais do PTB. O partido tem cinco deputados estaduais e três federais - um quarto da bancada na Câmara, com 12 assentos, é gaúcha. A proibição atrapalha os planos da legenda na maioria dos municípios, mas sobretudo nos cinco maiores colégios eleitorais, todos com mais de 200 mil eleitores.
Em Porto Alegre, o pré-candidato José Fortunati tinha conversas adiantadas com o DEM, mas viu o pretenso aliado correr para a coligação de Sebastião Melo (MDB) tão logo foi anunciado a nova orientação. Em Caxias do Sul, Canoas, Santa Maria e Pelotas, as parcerias com siglas vetadas estão praticamente fechadas.
O caso mais crítico é Canoas, administrada pelo presidente estadual do PTB, Luis Carlos Busato. Candidato à reeleição, Busato pretende concorrer tendo como vice o vereador mais votado da última eleição, Dario Silveira, do PDT.
— Ainda não fechamos, mas está bem encaminhado – comenta.
Em Pelotas, Caxias e Santa Maria, o PTB apoia candidatos a prefeito do PSDB. Os partidos também estão juntos no governo do Estado, com o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior ajudando a conduzir a gestão ao lado do tucano Eduardo Leite. Além do constrangimento provocado na gestão estadual pela postura de Jefferson, Busato afirma que o partido terá uma perda eleitoral significativa se a normativa for confirmada.
— Teremos muitos prejuízos, pois muitas conversas já estão em andamento. Vamos conversar com o presidente para ver se ele tira o pé do acelerador — afirma o prefeito de Canoas.
Alinhado à direção nacional, o deputado federal Maurício Dziedricki afirma que as regras para costura de aliança representam uma nova doutrina ideológica do PTB. Indicado por Jefferson para ocupar uma das vice-lideranças do governo na Câmara, Dziedricki admite que a decisão veio em meio às negociações pré-eleitorais, mas afirma que o partido já discutia a posição há um mês.
— Ficou um pouco em cima, mas muitos já sabiam. A gente fez uma reunião há um mês em que se discutiu isso. Não é surpresa para ninguém. É uma diretriz nacional – sustenta.
Outro complicador enfrentado pelos dirigentes gaúchos é a dissolução do diretório estadual. Em mensagem de áudio, Jefferson afirma que todos os integrantes da executiva do PTB no Rio Grande do Sul assinaram carta de renúncia, mas Busato considera complicado desmontar o partido às vésperas de uma eleição:
— Não é por mim, estou há sete anos na presidência e já havia tentado tirar uma licença antes, mas não considero adequado dissolver um diretório no meio da eleição. Vamos conversar sobre isso também.