O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou, em entrevista à colunista Carolina Bahia, que não é candidato à Presidência da República em 2022. Disse que, no momento, o foco precisa ser o combate à pandemia, não as eleições.
— Eu não estou em campanha nenhuma, estou preocupado com 2020 — ressaltou.
O ex-ministro admitiu ainda que política anticorrupção não avançou durante sua participação no governo de Jair Bolsonaro devido a falta de iniciativa do Palácio do Planalto. E fez críticas a política armamentista que, segundo ele, "certamente" não melhora a segurança pública.
No entanto, repetiu que não se arrepende de ter participado do governo, que foi leal aos seus princípios e que, agora, tenta se inserir no setor privado.
Em live transmitida por GaúchaZH, o ex-ministro condenou ainda a polarização extrema na política e avaliou que isso afeta o debate sobre assuntos essenciais para a população, inclusive na saúde:
— Vivemos um cenário de polarização excessiva e isso afeta combate à pandemia, gerando situações esdrúxulas com pessoas se gladiando com a questão da cloroquina, transformando em algo político — afirmou.
Confira os principais pontos da entrevista:
Eleições 2022
O ex-ministro negou que seja candidato à Presidência em 2020 e disse que considera prematuro discutir eleições, já que, neste momento, para ele, o foco precisa ser o combate à pandemia do coronavírus.
— O foco tem que ser como superar crise em 2020. É válido participar desse debate público. Não vejo que não posso participar, mas isso não significa que vai haver uma candidatura — afirmou.
Sobre participação como vice-presidente em possível chapa com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ao Palácio do Planalto, ele também rechaçou:
— São especulações que não fazem sentido.
Sobre a participação do governo
Moro disse que quando tomou a decisão de participar do governo, em 2018, "tinha grande expectativa". Lembrou que as pesquisas, na época, apontavam que boa parte da população o apoiava como ministro. Afirmou ainda que sua ideia era consolidar os avanços anticorrupção e no combate ao crime organizado.
— E acho que em parte foi bem sucedido, principalmente na realidade violenta e no crime organizado. Na parte anticorrupção (...) não conseguimos implementar mais fortemente uma agenda, em parte, por conta de pouca iniciativa do Palácio do Planalto — afirmou.
O ex-ministrou negou que tenha se arrependido de ter entrado no governo federal e ressaltou que seguiu sua consciência e princípios:
— Entrei no governo pra servir ao meu país e não a uma pessoa. Saí pela discordância.
Sobre a política armamentista
Moro ressaltou que "certamente" a política armamentista não melhora a segurança pública. Ele disse que é a flexibilização das armas é uma reivindicação legítima, uma vez que com isso "algumas pessoas se sentem mais seguras", mas ressaltou que não vai resolver a situação do país.
— A posição do presidente é mais extremada que a minha, aí eu acho que existem alguns riscos. Principalmente se você não tem junto com as flexibilização uma medida adequada de rastreamento das armas e identificação. Qual o risco de você criar um mercado legal muito robusto mas concomitantemente esse armamento ir parar nas mãos do crime organizado? Aí pode afetar, inclusive, os nossos indicadores criminais — ressaltou.
Combate à pandemia
Em relação a pandemia da covid-19, que deixa mais de 85 mil mortes no Brasil, Moro disse que faltou liderança e discurso de união:
— Nós vivemos um cenário de polarização excessiva e isso acaba dificultando o próprio combate à pandemia, e gerando situações esdrúxulas como por exemplo as pessoas se gladiando em torno de um remédio, a cloroquina.
Moro disse ainda que o próprio presidente moderou o discurso em relação ao coronavírus:
— Ele estava em um discurso muito agressivo, isso (a mudança de discurso) é positivo. Mas os desafios que temos pela frente ainda são muito grandes.
O presidente Bolsonaro foi denunciado no tribunal de Haia, na Holanda, por um grupo de entidades sindicais brasileiras. A ação, impetrada no domingo (26), acusa o chefe do Executivo nacional de "falhas graves e mortais" no combate à pandemia do coronavírus. Moro avalia, contudo, que as atitudes do presidente não podem ser classificadas como genocídio.
— Por mais que possa ser criticada a posição de Bolsonaro, esse negacionismo em relação à gravidade da pandemia, não me parece que há essa possibilidade de qualificar essa postura como genocida. Genocídio é algo bem diferente — afirmou.
Sobre Lula
Quando a colunista comentou a frase em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama o ex-juiz da Lava-Jato de "mentiroso", Moro disse que nunca tratou a condenação de Lula como "algo pessoal":
— Nunca foi nada pessoal contra ele, mas ele tem necessidade de fazer esse álibi para tentar buscar uma absolvição ou dizer que foi tudo um jogo político e volta e meia ele se vale dessas ofensas, ele já fazia na época do processo e faz agora.
Disse ainda que sempre que emitiu uma sentença condenatória, fazia "com pesar":
— Ninguém quer causar sofrimento para uma pessoa.
Inquérito das fake news no STF
Sobre o inquérito das fake news que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), Moro comentou a ação do ministro Alexandre de Moraes de solicitar a suspensão de perfis nas redes sociais:
— Existe, de fato, a utilização das redes sociais para disseminar notícias falsas, ameaças, calúnia. E isso nunca foi considerado protegido pela liberdade de expressão. A dúvida é, se identificado um comportamento padrão dentro da rede daquele perfil para disseminação sistemática de notícias falsas, de ofensas, de ameaças, se pode ser tomada uma medida dessa natureza como foi tomada pelo ministro do Alexandre? Não a mera supressão da mensagem, mas a retirada do perfil — afirmou.
— O ideal é que talvez as próprias redes fizessem um pouco mais de controle sobre o conteúdo — completou.
A Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que representa judicialmente os interesses do governo federal, pediu ao STF que a suspensão dos perfis fosse revertida. Moro, contudo, avaliou que este não é um posicionamento que o órgão deveria ter tomado.
— Me parece uma distorção do papel institucional da AGU e não me parece o comportamento mais adequado que se espera da instituição (...) A AGU serve para defender o governo federal — afirmou.