O governador Eduardo Leite criticou, nesta segunda-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro por participar de atos contra o Congresso e a favor de uma intervenção militar no Brasil. Leite afirmou que, diante da pandemia do coronavírus, a "energia precisa estar focada" em enfrentar a doença e os efeitos colaterais que as medidas de isolamento impõem.
— Uma manifestação que certamente vai ao contrário do que nós acreditamos. Não adianta colocar a democracia no discurso, se não for uma prática. (...) Temos tanta coisa para colocar a nossa energia, e isso acaba fazendo com que se disperse com risco à democracia. É muito importante que nós estejamos conscientes da gravidade do acontecimento — disse Leite, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
No domingo (19), em Brasília, o presidente participou de ato e discursou para manifestantes que faziam carreata em defesa do governo, contra o Congresso e a favor de uma intervenção militar no Brasil. Manifestações também foram realizadas em outras cidades, como Porto Alegre, Salvador, São Paulo e Manaus.
Durante a tarde, governadores de 20 Estados, incluindo Leite, divulgaram uma carta de apoio ao Congresso, em resposta aos últimos ataques do presidente ao parlamento. O texto também presta solidariedade aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em face de declarações de Bolsonaro.
Agressão em Porto Alegre
Leite também comentou a manifestação ocorrida no centro de Porto Alegre e que culminou em agressões e cerceamento ao trabalho da imprensa.
— O que aconteceu ontem é um episódio lamentável, especialmente o cenário de agressão. A Polícia Civil já identificou os agressores, inclusive com a imagem de agressão a um repórter de GaúchaZH. São atos deploráveis, devem ser repudiados e com as quais não compactuamos — declarou.
Críticas ao Planalto
Leite criticou ainda o que chamou de "falta de liderança" do governo federal para ajudar os Estados e municípios diante da crise provocada pela pandemia de coronavírus.
— O Congresso teve que tomar a frente, observando que os Estados e municípios terão grande queda de arrecadação (...) Muito se falava que seria socorro ao governo, mas é um socorro à própria população. Se os governos colapsarem, não são os governadores que pagam o preço, é a população.
Distanciamento social no RS
No início da noite desta segunda-feira, conforme o governador, haverá uma reunião com representantes de entidades, universidades e sindicatos para discutir o grau das medidas de distanciamento social em cada região do Estado.
Questionado sobre os motivos que embasaram a flexibilização das regras para o comércio na Serra — um dia depois de anunciar decreto mantendo o comércio fechado nas regiões metropolitanas de Porto Alegre e de Caxias do Sul até 30 de abril —, Leite afirmou que ela teve caráter científico. Contudo, admitiu que a pressão por parte de gestores municipais também pesou na decisão.
— O Estado não liberou (o comércio). O Estado manteve as atividades vedadas, mas permitiu que os prefeitos fossem menos restritivos, com critérios a serem observados.