A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça repercute no meio político do Brasil. Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta sexta-feira (24), a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) disse não estar surpresa com a decisão. Ela ainda afirmou que o presidente Jair Bolsonaro "dá ordens como se a Justiça fosse uma coisa submissa a ele".
— Moro elenca pelo menos quatro crimes de responsabilidade que foram cometidos pelo presidente no momento que interferiu na PF (Polícia Federal) para tentar salvar os filhos, que estão envolvidos numa quadrilha, todo mundo sabe, de milícias, digitais, com financiadores, além da própria interferência direta. Isso é muito grave. O próprio Moro disse que nem Dilma nem Lula, estamos falando da escória da política brasileira, chegaram a esse ponto nesse nível de interferência. É uma das situações mais graves que o Brasil vive nos últimos anos — afirmou.
Ela comparou as atitudes de Bolsonaro com as de Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela:
— O militarista que está, na verdade, tomando posse, querendo fechar Congresso, querendo tomar a polícia. Se pegar a história do Chávez, é a mesma coisa. Agora, que o presidente faz como fez com o Moro, “eu quero saber, manda relatório, põe na gaveta”, ele dá ordens como se a Justiça fosse uma coisa submissa a ele. A Justiça não é submissa ao presidente da República. Isso é mais que obstrução da Justiça, é o presidente da República. Não é qualquer um, um zé ruela. É o homem que ocupa o maior cargo público do país — reforçou.
Para ela, Bolsonaro teme possíveis complicações por seus filhos, Eduardo, Flávio e Carlos Bolsonaro, que, segundo Joice, estão envolvidos em investigações que se cruzam. A primeira seria sobre o financiamento para disseminação de fake news. A segunda, a investigação das rachadinhas e de Queiroz.
— Os três estão, de alguma forma, envolvidos em investigações como o financiamento com capital privado para fake news e uso de estrutura pública para definir repetições com dossiês falsos. Vão começar a chamar o Moro de comunista, já vi memes rolando imediatamente após a coletiva. É assim que eles funcionam, e usam a estrutura pública para isso. Isso envolve diretamente o Carlos Bolsonaro e o Eduardo Bolsonaro. Os dois estão até o pescoço envolvidos nisso, o assessor do Carlos já foi pego com computador no gabinete do Eduardo. A outra coisa é que já é a nona vez que o Flávio tenta barrar a investigação envolvendo ele mesmo. Investigação de rachadinha, do Queiroz. E a gente sabe que Queiroz tem uma relação profunda com a família, era o melhor amigo de Bolsonaro. Então ele quer impedir que essa investigação siga, porque pode dar cadeia. Se o presidente não sabe o que os filhos andam fazendo, ele vive no mundo da lua — argumentou Joice.
Questionada sobre medidas que podem ser esperadas do parlamento, a deputada afirmou que já chegaram pedidos de apoio e que vai aceitar, pois é "necessário saber até onde chegou o processo da interferência". Ela também falou sobre estudos de juristas em relação a um possível impeachment:
— Tem dois caminhos já seguindo na Câmara. Já tem CPI sendo aberta. Já me pediram apoio e eu vou apoiar. É preciso saber até onde chegou o processo de interferência. Ele deixou no ar que tem muito mais coisa que a gente precisa saber. A gente quer saber qual é a verdade. E há estudos de juristas em relação a um processo de impeachment, porque, apesar de ter os crimes de responsabilidade, temos que pensar no impacto.