BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (20) que não está preocupado com os seguidos panelaços promovidos contra ele nos últimos dias em diferentes regiões do país.
"Eu não estou preocupado com o panelaço. Eu estou preocupado com o vírus, com a saúde, com o emprego do povo brasileiro", afirmou, em entrevista na frente do Palácio da Alvorada. "Qualquer panelaço, qualquer coisa que venha a acontecer é manifestação democrática. Toca o barco."
"Se alguém marcar um panelaço contra a Globo, vocês vão ver que vai ser ensurdecedor nas cidades. Eu não vou marcar um panelaço contra a Globo. Não é essa a minha preocupação. Mas, se marcarem contra a Globo e contra algumas autoridades que temos por aí, certo, vai ter um som ensurdecedor. Eu não quero entrar nessa briga. A minha briga é outra. É a saúde, é a vida, é o emprego, é a segurança do povo brasileiro."
Um dia antes, Bolsonaro foi alvo de mais um panelaço em diversas cidades do país. Foi o terceiro ato seguido do tipo contra o presidente. Os protestos nas janelas foram convocados em redes sociais foi impulsionado pela reação de Bolsonaro à crise do coronavírus, que afetou a rotina de milhões de brasileiros e deve ter duro impacto na economia.
Bolsonaro, que já se referiu à dimensão da doença como "fantasia", dizendo haver "histeria" da população, tentou reagir nesta quarta, após perder apoio inclusive entre alas conservadoras. Durante o ato de domingo (15), o presidente apertou a mão e cumprimentou uma série de apoiadores, além de ter tirado selfies e segurado telefones celulares e devolvido a seus donos.
O presidente tem cobrado o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) a adotar um discurso mais afinado ao do Palácio do Planalto no combate à pandemia. Para ele, o tom adotado pela saúde tem gerado histeria.
Modulando seu discurso público, o presidente passou a reconhecer que a situação é grave, embora não tenha demonstrado arrependimento de ter participado de ato no último domingo, contrariando recomendação do Ministério da Saúde.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta sexta mostrou que, se eleitores de esquerda e de centro se uniram nas redes e no panelaço contra Bolsonaro, os partidos que representam esses segmentos também estão na mesma página hoje focados no combate ao coronavírus, mas divergem sobre o futuro do governo.
Enquanto líderes de siglas de esquerda veem o suporte popular a Bolsonaro minguar por ter desdenhado do coronavírus a ponto de mobilizar a sociedade e criar condições de impeachment quando a pandemia passar, os caciques do centro evitam o exercício de futurologia e preferem o apoio crítico ao presidente do que migrar de vez para a oposição.
Na semana em que Bolsonaro incentivou aglomerações em atos contra o Congresso e o Judiciário e a favor de seu governo, além de quebrar ele próprio as recomendações de isolamento para apertar a mão de apoiadores, o bolsonarismo viveu fissuras. Janaina Paschoal (PSL) e parte dos conservadores abandonaram o barco de vez.
Coroando a mais grave crise política de Bolsonaro até aqui, na quarta (18), o panelaço contra o governo atraiu a classe média e foi mais intenso do que o convocado a favor do presidente. Líderes partidários, no entanto, não pretendem explorar a crise política em meio à crise de saúde pública e econômica a que o mundo está submetido. Eventual impeachment foi engavetado por ora até pela esquerda.