O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, fez críticas à forma com a qual a Operação Lava-Jato lidou com empresas envolvidas em corrupção em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo. Ao afirmar que a Suprema Corte chamou uma reunião para explicar a celebração de acordos de leniência com empresas processadas na operação, Toffoli disse que o que aconteceu no Brasil "jamais" aconteceria em outros países.
— A Lava-Jato foi muito importante, desvendou casos de corrupção, colocou pessoas na cadeia, colocou o Brasil numa outra dimensão do ponto de vista do combate à corrupção, não há dúvida. Mas destruiu empresas. Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Jamais aconteceu na Alemanha. Nos Estados Unidos, tem empresário com prisão perpétua, porque lá é possível, mas a empresa dele sobreviveu. A nossa legislação funcionou bem para a colaboração premiada da pessoa física. Mas a da pessoa jurídica não ficou clara — afirmou.
Toffoli também fez críticas ao Ministério Público. Para ele, as prisões de desembargadores suspeitos de envolvimento em um esquema de venda de sentenças na Bahia provam que o Poder Judiciário "é o mais transparente que tem".
— (...) O trabalho na Bahia é feito pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Conselho Nacional de Justiça. Veja se o Conselho Nacional do Ministério Público fazia isso, até pouco tempo. O Judiciário trabalha com muita transparência. O Ministério Público deveria ser uma instituição mais transparente — declarou.
Procuradores da Operação Lava-Jato reagem
As falas de Toffoli não caíram bem entre os procuradores da República responsáveis pela força-tarefa da Operação Lava-Jato. No Twitter, o coordenador Deltan Dallagnol disse que a fala de Toffoli é uma "irresponsabilidade".
"É, assim, fechar os olhos para a raiz do problema, a prática por muitos políticos e empresários de uma corrupção político-partidária sanguessuga, que drena a vida dos brasileiros", escreveu.
A ideia também foi compartilhada pelo procurador Roberson Pozzobon, integrante da força-tarefa. Para ele, a instauração do inquérito das fake news mostra incoerência do presidente do STF.