Presidente do Livres, grupo liberal que está acompanhando de camarote a confusão no PSL, Paulo Gontijo sente-se aliviado por ter desembarcado da sigla com a vinda de Jair Bolsonaro.
A explicação é que o Livres escapou de estar no meio da brigalhada no (ainda) partido do presidente.
— É uma novela mexicana de segunda divisão. É até difícil acompanhar: fulaninho que trai beltrano, um que passa a perna no outro, a Carla Zambelli que xinga a Joice Hasselmann e é xingada de volta... — reflete Gontijo.
Numa era distante, em que Bolsonaro era apenas um deputado federal do baixo clero cuja pretensão de disputar a Presidência era vista com descrédito, o Livres surgiu com uma nova proposta: ser um raro movimento liberal na economia e também nos costumes.
Criado em 2015, reuniu gente de peso, como os economistas Persio Arida e Elena Landau, e começou a procurar um partido para se hospedar. Chegaram ao PSL, que era apenas uma legenda nanica e buscava um novo projeto. Deu "match".
Os líderes do Livres filiaram-se ao partido e começaram a controlar diretórios estaduais. Chegaram a dominar 12 deles. Tinham como aliado Sergio Bivar, presidente da fundação do partido e filho do carique da legenda, Luciano Bivar.
Sergio, hoje afastado da política, tinha uma cabeça liberal, bem diferente da do pai, um deputado e ex-cartola (do Sport) que disputou a Presidência em 2006, quando obteve 0,06% dos votos.
Mas aí, lá para o final de 2017, as coisas começaram a ficar estranhas. Bolsonaro, de saída do PSC, começou a procurar um partido que pudesse controlar. Acenou para o Patriota, mas começou a negociar sua filiação ao PSL com Bivar.
O Livres incomodou-se. Afinal, apesar dos acenos de Bolsonaro a políticas econômicas liberais, o discurso conservador e as bravatas do presidenciável incomodavam. Gontijo foi tirar satisfação com Bivar, que garantiu: era tudo especulação.
O Livres acreditou e colocou um comunicado em seu página no Facebook garantindo que Bolsonaro não se filiaria ao PSL. Menos de um mês depois, em janeiro de 2018, a especulação virou realidade. Bolsonaro entrou e o Livres saiu.
É triste que a principal legenda de apoio ao governo esteja se comportando dessa forma. É o que acontece quando você não tem um projeto de verdade. O PSL é um bando, que se juntou apenas por um projeto de poder
PAULO GONTIJO, DO GRUPO LIVRES
Hoje, o grupo se mantém como um movimento suprapartidário, com filiados espalhados por partidos como Cidadania, PSDB, PSB, Novo e Rede.
— O PSL virou briga na pelada da várzea, um negócio horroroso — afirma Gontijo.
Ele acha a situação institucionalmente ruim para o país.
— É triste que a principal legenda de apoio ao governo esteja se comportando dessa forma. É o que acontece quando você não tem um projeto de verdade. O PSL é um bando, que se juntou apenas por um projeto de poder — diz.