Em 29 anos de vida pública, o presidente Jair Bolsonaro sempre se guiou pelo ideário da direita, porém nunca foi fiel a agremiações partidárias. Ao expor publicamente as rusgas com PSL, sua oitava legenda em nove mandatos, ele adiciona mais intrigas a uma disputa fratricida pelo comando da sigla e escreve um novo capítulo de sua trajetória de outsider político.
Bolsonaro começou sua carreira concorrendo a vereador em 1988 pelo minúsculo Partido Democrata Cristão (PDC), criado três anos antes. Em 1993, uma fusão com o PDS, um filhote da antiga Arena, partido de sustentação do regime militar, deu origem ao PPR. Ali ele ficou até 1995, quando uma nova associação, desta vez ao Partido Progressista (PP), deu à luz o Partido Progressista Brasileiro (PPB). Sem sair do lugar, Bolsonaro já estava em sua terceira legenda.
À época já no segundo mandado de deputado federal, o capitão reformado permaneceria na sigla por oito anos, até 2003. Só então migrou para o PTB, partido da base do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse período, sob os auspícios de Roberto Jefferson, empregou o filho Eduardo Bolsonaro na liderança do partido na Câmara, mesmo ele morando no Rio de Janeiro.
No início de 2005, trocou o PTB pelo PFL, hoje DEM, mas ficou menos de quatro meses na legenda. Em abril, já estava no PP, nova denominação do antigo PPB. O retorno representou também seu período de maior estabilidade partidária. Foram 11 anos no PP, de onde só saiu em 2016 para se filiar ao nanico PSC. Mais uma vez, foi por pouco tempo.
Decidido a concorrer à Presidência, Bolsonaro não admitia disputar o cargo por uma legenda sobre a qual não tivesse total controle. Desagradava o deputado sobretudo as alianças feitas em 2016 com siglas de esquerda, como o PCdoB. A princípio, flertou com o PEN. O presidente da legenda, Adilson Barroso, aceitou ceder o comando nacional da agremiação, 23 diretórios estaduais e cinco vagas na executiva nacional. No Rio Grande do Sul, foram nomeados interventores ligados ao gabinete de Bolsonaro.
- Nada disso bastava. Eles queriam o partido inteiro - reclamou Barroso à época.
Quando grande parte dos seus apoiadores nos Estados estavam prestes a assinar ficha no PEN, Bolsonaro surpreendeu ao preferir o PSL. A notícia causou descontentamentos internos e levou a ala batizada de Livres, formada majoritariamente por jovens liberais, a deixar o partido. Ao anunciar sua chegada, em janeiro de 2018, Bolsonaro admitiu que era uma união por conveniência:
- Dificilmente ele sobreviveria à cláusula de barreira, e eu, sem partido, não seria candidato. Então estamos fazendo um casamento.
O matrimônio durou 19 meses. Prestes a deixar para trás o oitavo partido consecutivo, o presidente busca se distanciar das intrigas internas e dos escândalos das candidaturas-laranja. Como legado, transformou uma sigla nanica na segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados eleitos em 2018 e na iminência de abarcar R$ 480 milhões provenientes dos fundos partidário e eleitoral em 2020.
A questão a ser resolvida agora é como ficam os parlamentares eleitos na onda bolsonarista que varreu as urnas e como ficará o a divisão do butim milionário das verbas públicas, sobretudo às vésperas de uma ano eleitoral. Pré-candidato a prefeitura de Porto Alegre e presidente municipal do PSL, o secretário estadual de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Ruy Irigaray, prefere manter a cautela:
- Já mudei três vezes de partido com o presidente, mas tem questões legais que têm que ser respeitadas. Fui muito bem recebido no PSL, acho que o momento é de prudência, existe uma legislação e ela tem de ser cumprida.