Por trás dos 60,2 mil precatórios na fila de pagamento do Estado, cuja dívida atinge R$ 15,7 bilhões, há gente como a pensionista Honorina Falcão Müller, 74 anos, o aposentado Sadi Domingos Gobatto, 80 anos, e os irmãos Vito, 76 anos, Sergio, 68 anos, e Dorvalino Gobbo, 72 anos. Todos eles aguardam o dinheiro devido pelo governo. Apesar das frustrações, não perderam a esperança de conseguir.
Orientada pelo Sindicato dos Servidores Públicos Aposentados e Pensionistas do Rio Grande do Sul (Sinapers), Honorina entrou na Justiça contra o Estado em 2007, quatro anos após a morte do marido, o servidor público Harry Müller.
Ele faleceu aos 70 anos, sem ter recebido aumento salarial aprovado no governo de Antônio Britto (então no PMDB), o que levou a pensionista a buscar reparação judicial. O precatório foi inscrito para pagamento no orçamento de 2018. Até a última sexta-feira, estava na posição número 7.128 da fila.
– Meu marido trabalhou por 45 anos na Secretaria da Agricultura. Era muito dedicado ao trabalho e respeitado pelos colegas. É triste ter de esperar tanto tempo por um direito, mas, se Deus quiser, vai dar certo. Espero que o governo faça alguma coisa – diz Honorina.
A expectativa é compartilhada por Gobatto e pela família Gobbo. Desde 2015, Zero Hora acompanha a sina dos moradores da Linha Vitória, em Carlos Barbosa, na Serra. Há mais de três décadas, eles tiveram as terras cortadas ao meio pela Rota do Sol (RS-453). Para receber indenização, eles se tornaram precatoristas.
De lá para cá, Vito vendeu um de seus títulos por 37% do valor original e Sergio aguarda acordo com o Estado – na última quinta-feira, a Câmara de Conciliação formalizou proposta, e Sergio planeja aceitar. Quanto aos outros dois, continuam sem perspectivas.
– O jeito é continuar aguardando. Fazer o quê? A esperança é a última que morre. O Vito ainda conseguiu alguma coisa, mas perdeu dinheiro, né? – afirma Gobatto, que, até sexta, estava na posição 23.587 da fila.
Cansado da demora, no fim de 2018, Vito decidiu aceitar a oferta de uma empresa interessada em adquirir precatórios para abater dívidas tributárias. Apesar do prejuízo, ele diz que não se arrependeu do negócio. O temor de morrer sem receber nada falou mais alto. Vito ainda tem um segundo precatório, herdado do pai e compartilhado com os irmãos, que permanece na fila.
– Reparti o dinheiro com meus filhos, que estavam precisando. É claro que saí perdendo, mas ia esperar até quando? Não dava mais para continuar assim – diz Vito.