Correção: o processo de Aldemir Bendine retorna à primeira instância, em Curitiba. O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras não foi absolvido, como publicado entre as 12h51min e 15h55min de 28 de agosto. O texto já foi corrigido.
Ao anular a sentença que condenou Aldemir Bendine, os ministros da 2ª Turma impuseram a maior derrota a Sergio Moro no Supremo Tribunal Federal (STF) e direcionaram o foco da Lava-Jato para o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil. Promovido à dirigente pelo PT, Bendine foi preso no dia 27 de julho de 2017, acusado de ter recebido R$ 3 milhões em propina da Odebrecht.
A cobrança do suborno teria ocorrido com a operação já em andamento. Segundo os investigadores, o dinheiro foi pago em três parcelas, entre junho e julho de 2015, quando Bendine estava à frente da Petrobras. No mesmo período, ele esteve reunido com o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para comemorar a devolução de R$ 139 milhões desviados da estatal e recuperados pela Polícia Federal.
Bendine foi preso na Operação Cobra — na planilha de propinas da Odebrecht, Cobra era o seu apelido. Mais tarde, teve prisão preventiva substituída por medidas cautelares. A força-tarefa apontou que, na véspera de assumir a Petrobras, ele pediu propina à empreiteira para protegê-la, inclusive em relação às consequências da Lava-Jato.
Funcionário de carreira do Banco do Brasil, chegou à presidência da instituição em abril de 2009, quando Guido Mantega era Ministério da Fazenda, no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele assumiu com a missão de implementar uma agressiva política de aumento de crédito e da concorrência entre os bancos.
À frente do banco, envolveu-se em uma controvérsia protagonizada pela socialite Val Marchiori, que é sua amiga. O banco concedeu um empréstimo a Val, contrariando exigências, e uma parcela do dinheiro foi usada para a compra de um Porsche. Na época, Bendine chegou a pedir afastamento do cargo.
O dirigente deixou o Banco do Brasil para assumir à presidência da Petrobras, em fevereiro de 2015, nomeado pela então presidente Dilma Rousseff para implantar um "modelo exemplar de governança". Ocupou o lugar de Graça Foster, que renunciou ao cargo em meio ao desgaste provocado pelas denúncias da Lava-Jato. À época, Bendine afirmou que a corrupção era "uma prática individual, mas cabia às empresas criar mecanismos para impedir danos à reputação".
Bendine entregou o cargo em meio ao processo de impeachment de Dilma, um ano e dois meses depois assumi-lo. Em sua despedida, escreveu uma carta aos empregados da estatal, na qual fez referência à operação que lhe prenderia no ano seguinte: "Não bastasse a queda aguda nos preços do petróleo, fomos obrigados a enfrentar forte desvalorização do real frente ao dólar e lidar com as descobertas da Lava-Jato, que revelou um conjunto de crimes praticados contra a companhia".
À Polícia Federal, Bendine negou ter recebido propina e afirmou que contrariou Marcelo Odebrecht, cancelando negócios e mantendo contratos suspensos por causa da Lava-Jato. Já Marcelo disse ter sido "achacado" por ele. Réu por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço às investigações, Bendine, agora, terá o seu processo de volta à primeira instância, em Curitiba.