
O governador Eduardo Leite aproveitou um discurso sobre a situação fiscal do Estado para afirmar que os demais poderes não têm motivos para reclamar do congelamento absoluto no orçamento proposto pelo governo do Estado. Ainda que a fala tenha sido destinada a todos os poderes e órgãos, atinge especialmente o Tribunal de Justiça (TJ-RS), que criticou fortemente o governador pelo congelamento de orçamento proposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Em defesa da proposta de LDO, Leite lembrou que os demais poderes têm conseguido pagar reajustes salariais a seus membros, mesmo com o orçamento já congelado. Leite afirmou ainda que os demais poderes têm destinado dinheiro para outras vantagens a servidores, o que, segundo o governador, mostra que "há folga nos seus orçamentos".
— Cada poder vai ter que fazer sua parte. O Judiciário, o Ministério Público e o Legislativo argumentam que precisam do crescimento vegetativo no orçamento. Eu digo, sim, mas eu assisti recentemente a poderes pagando URVs, licenças e dando reajustes sem ter tido reajuste nos orçamentos. Ou seja, há folga nos orçamentos para que consigam atender a sua própria necessidade sem repassarmos valores maiores — disse, em discurso a sindicalistas da Polícia Civil, na quinta-feira (6).
No último dia 15 de maio, Leite entregou à Assembleia Legislativa a LDO mantendo a previsão de congelamento de gastos. Diferentemente do governo anterior, Leite decidiu congelar a previsão orçamentária sem incluir nem mesmo o chamado crescimento vegetativo da folha de pagamento. Na prática, o orçamento proposto não prevê aumento de repasse aos demais poderes para dar conta do incremento de gastos com avanços automáticos concedidos aos servidores. É o Poder Executivo que projeta o orçamento do Judiciário, Legislativo, Ministério Público, Tribunal de Contas (TCE) e Defensoria Pública.
O único a reagir publicamente contra a medida foi o TJ-RS. Em nota, o presidente do Judiciário gaúcho, Carlos Eduardo Duro, criticou a falta de diálogo do Piratini e disse que o congelamento "compromete o atendimento das necessidades mínimas do Judiciário".
No fim de 2018, acompanhando o reajuste dos ministros do STF, o Órgão Especial do TJ-RS autorizou o aumento salarial de 16,38% aos juízes gaúchos. Os reajustes também foram aplicados às cúpulas dos demais poderes e órgãos.
Também no fim de 2018, a Mesa Diretora da Assembleia aprovou o pagamento das correções da unidade real de valor (URV) a servidores que trabalharam na Casa entre 1994 e 1999. A Assembleia terá de desembolsar R$ 550 milhões — dos quais R$ 518 milhões serão destinados a servidores inativos. O TCE já havia decidido, um mês antes, pelo pagamento de mais de R$ 230 milhões em supostas perdas salariais de servidores em relação a URVs.