SÃO BERNARDO DO CAMPO, SP, E CURITIBA, PR ((FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do velório do neto neste sábado (2) em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, após deixar a cela da Polícia Federal em Curitiba sob forte esquema de segurança e uma logística com avião e helicóptero para transportá-lo.
O petista obteve permissão da Justiça para a saída devido à morte de Arthur, 7, um dos netos mais próximos dele e vítima de meningite no dia anterior. Foi a primeira vez que Lula esteve em seu reduto político depois que foi preso, em abril de 2018 -desde então, havia deixado a carceragem da PF apenas para prestar depoimentos no prédio da Justiça Federal do Paraná.
O ex-presidente chegou às 11h no cemitério Jardim da Colina sob escolta armada. Foi recebido aos gritos de "Lula livre" e "Lula guerreiro do povo brasileiro", acenou para os simpatizantes, que se aglomeravam no entorno, contidos por grades, e que rezaram um Pai-Nosso em seguida.
A presença de mais de uma centena de pessoas no local, porém, foi discreta em relação a mobilizações anteriores -a pedido de aliados do próprio petista, que se comprometeu a manter detalhes de seu roteiro sob sigilo.
Lula saiu do cemitério por volta das 13h -e seria levado de volta para a PF em Curitiba.
Caciques petistas ou próximos do ex-presidente estiveram no velório ou na cremação, como Fernando Haddad, Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, Emídio de Souza, Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho, Benedita da Silva, José Genoíno, Alexandre Padilha e Clara Ant -além do líder do PSOL Guilherme Boulos.
O garoto Arthur visitou o avô por duas vezes na sede da PF em 2018. Era filho de Marlene Araújo Lula da Silva e Sandro Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente e de Marisa.
Familiares e amigos se despediram do menino em um caixão branco aberto. À frente, foram colocados brinquedos, bola de futebol e um par de chuteiras. A sala estava repleta de coroas de flores, enviadas por políticos, membros da família, sindicatos e também pelo ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Familiares e poucos políticos tiveram acesso a Lula dentro do crematório. Segundo relatos de pessoas que estiveram ali, Lula chorou compulsivamente ao entrar.
O petista pôde circular pela sala onde estava o caixão do neto e pela sala adjacente. A Polícia Federal proibiu o registro de imagens, vídeos e áudios, inclusive pela equipe de comunicação do PT.
O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), telefonou para Lula para apresentar condolências.
O magistrado afirmou que ele e a mulher, Guiomar, lamentavam muito a tragédia. "Estamos rezando por você. Que você tenha força", disse Gilmar. Lula agradeceu e começou a chorar, a ponto de não conseguir dizer mais nada. Gilmar também chorava, e a conversa teve que ser interrompida. Um dos amigos do petista, que estava ao lado dele, pegou o telefone e terminou a conversa com Gilmar.
Neste sábado, poucos assessores acompanharam a saída do petista do lado de fora da PF em Curitiba. No horário de partida do helicóptero, não havia militantes na Vigília Lula Livre, montada em frente à PF desde que ele foi preso.
Mas tarde, cerca de 30 militantes da Vigília Lula Livre fizeram um ato de apoio ao ex-presidente no local.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, comentou em tom crítico na sexta-feira a autorização dada ao petista. "Lula é preso comum e deveria estar num presídio comum. Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado", escreveu no Twitter.
Neste sábado, disse: "Perguntado se Lula deveria sair da cadeia respondi que não -até por uma questão de isonomia com os demais presos. Agora, sobre a morte da criança é óbvio que é um fato lamentável e indesejável. Isso independe de ideologia. Não misturem as coisas."
Lula recebeu autorização da Justiça Federal no Paraná para acompanhar o velório com base na Lei de Execução Penal, que prevê a permissão de saída de presos para velórios e enterros de familiares.
O ex-presidente deixou a carceragem da PF onde cumpre pena por condenações de corrupção na Lava Jato em um helicóptero às 7h. De lá seguiu para o aeroporto do Bacacheri, onde trocou de aeronave rumo ao aeroporto de Congonhas, na capital paulista.
Lula voou para São Paulo em avião do Governo do Paraná, cedido a pedido da Polícia Federal pelo governador Ratinho Júnior (PSD). De Congonhas, Lula seguiu de helicóptero para as proximidades do cemitério. O restante do trajeto foi feito de carro.
Mais de dez viaturas da PM aguardaram a chegada de Lula no cemitério. Os policiais armados foram responsáveis pela segurança do lado de fora da sala do velório, enquanto a segurança de Lula ficou a cargo da PF.
Sindicalistas e apoiadores também tiveram a entrada autorizada, e a aglomeração no local cresceu ao longo da manhã. Simpatizantes e políticos tiveram que deixar o local onde está o caixão de Arthur por uma determinação da PF de que somente familiares estivessem presentes.
Seguranças do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC montaram uma estrutura de grades para controlar a entrada.
Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, informou aos policiais que a militância não foi convocada, e que o velório seria reservado a familiares e amigos. Líderes petistas demonstraram incômodo com a quantidade de policiais.