De volta a Brasília após 17 dias internado para cirurgia de retirada da bolsa de colostomia, o presidente Jair Bolsonaro se prepara para dar largada efetiva ao governo. Decisões importantes aguardam a retomada do expediente no principal gabinete da República, como o formato da reforma da Previdência e o controle da crise envolvendo suspeitas sobre candidaturas do PSL nas eleições do ano passado. É preciso ainda formalizar o envio ao Congresso do pacote anticrime e destravar as nomeações para cargos de segundo escalão.
Eram 12h20min desta quarta-feira (13) quando Bolsonaro deixou o Hospital Albert Einstein rumo ao aeroporto de Congonhas, de onde decolou no FAB 01 para Brasília. O retorno é aguardado com expectativa por integrantes do primeiro escalão, sobretudo para aparar arestas na discussão de questões fundamentais para o governo.
Na equipe econômica, o tema fundamental é a definição das mudanças na Previdência. Embora o presidente tenha recebido esboços das propostas formuladas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda não viu versão final do texto que será submetido ao Congresso. O objetivo do governo é aprovar a reforma na Câmara ainda no primeiro semestre. Para isso, é preciso pressa na redação final e retomada na interlocução com a base.
O Congresso voltou ao trabalho durante a hospitalização do presidente, mas as bancadas aliadas enfrentam desarmonia. Bolsonaro espera pacificar o ambiente nomeando os líderes do governo no Senado e no Congresso, postos ainda vagos, e fazendo demonstração explícita de confiança no líder na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO). Deputado estreante, é alvo de sabotagens, até do próprio partido.
No Planalto, o clima também é de intriga. Filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) desmentiu publicamente nesta quarta-feira (13) o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno. Apontado como responsável pela liberação de recursos do fundo partidário para supostas campanhas fantasmas, Bebianno disse na terça-feira que havia conversado três vezes com Bolsonaro. Era uma tentativa de desfazer a percepção de que enfrenta desgaste. Além de classificar de “mentira” a afirmação, Carlos divulgou no Twitter áudio no qual Bolsonaro, ainda internado, recusa diálogo com o ministro – o presidente compartilhou a mensagem na rede social.
– Ô Gustavo, tá complicado conversar ainda. Então não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser o estritamente essencial. Tô em fase final aqui de exames para possível baixa (alta) hoje, tá ok? Boa sorte aí – diz no áudio.
O ato repercutiu no Congresso. A aliada e deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) criticou Carlos.
– Não pode se misturar as coisas. Filho de presidente é filho de presidente. Temos de tomar cuidado para não fazer puxadinho da Presidência da República dentro de casa para expor um membro do alto escalão do governo dessa forma – disse Joice, expressando o mal-estar que se espalhou entre parlamentares do PSL.
A oposição também reagiu. O deputado Henrique Fontana (PT) protocolou requerimento para que Bebianno preste esclarecimentos na Câmara. Além do mesmo pedido, o PSOL entrou com representação na Procuradoria-Geral da República contra o PSL.