Terceira candidata que mais recebeu verba pública repassada pelo PSL, Maria de Lourdes Paixão, 68 anos, obteve apenas 274 votos. Para concorrer a uma vaga como deputada federal por Pernambuco, a legenda transferiu para a candidata R$ 400 mil – mais do que o recebido pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Quase todo o valor foi gasto em uma gráfica com indícios de que não existe. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Segundo a Folha, Maria de Lourdes Paixão obteve verba pública do fundo partidário apenas quatro dias antes da eleição. Dos R$ 400 mil, R$ 380 mil foram gastos para imprimir 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos às vésperas da eleição. O material, pago com verba pública, tinha menos de 24 horas para ser distribuído.
A reportagem visitou os endereços da gráfica informados na nota fiscal e na Receita Federal, em Recife, mas não encontrou sinais de que ela exista. No endereço da nota fiscal, funciona há um ano uma oficina de carros, segundo funcionários. No endereço da Receita, há uma cafeteria e papelaria – os funcionários do estabelecimento afirmaram que a gráfica teria se mudado para o andar de cima, mas o jornal visitou por dois dias o local e a sala estava fechada.
Após a visita, um homem que se identificou como funcionário da gráfica ligou à reportagem. Ele declarou que a empresa havia se mudado do endereço da oficina para o endereço no andar de cima da papelaria e cafeteria por dificuldades financeiras. Questionado sobre o segundo local estar fechado, ele justificou que a gráfica estava em reforma.
Perguntado sobre ter recebido pedido para imprimir R$ 380 mil em materiais, ele se espantou com o alto valor e negou ter realizado o trabalho. Também não se lembrou do nome de Maria de Lourdes Paixão. No dia seguinte, ligou novamente e afirmou que verificou no sistema e que o material foi feito e entregue. Ele se identificou como Paulo. O nome de Paulo Henrique Vasconcelos Chaves aparece em contratos da gráfica Itapissu como gerente.
Questionada, a candidata Maria de Lourdes disse não se lembrar do nome do contador que figura na prestação de contas, da gráfica onde teria comprado materiais nem do volume adquirido. Tampouco justificou por que foi escolhida como candidata e por que o PSL transferiu-lhe o terceiro maior valor de verba públicas em todo o país.
— Recebi um valor expressivo do partido, mas acontece que, quando eu vim a receber, já era campanha final e não deu tempo de expandir — explicou.
O nome de Maria de Lourdes, assim como de outros candidatos pernambucanos, recebeu o aval do grupo político do presidente do PSL, Luciano Bivar, que é um dos caciques da legenda no Estado. Segundo ata de reunião do PSL em 7 de agosto, a candidata foi escolhida para preencher a cota de 30% de nomes femininos para as eleições.
Ninguém soube dar explicações sobre o caso nem detalhar a candidatura da pernambucana, mas políticos da legenda negaram que Maria de Lourdes fosse candidata laranja criada para usar dinheiro público.
Em entrevista, Bivar disse que o endereço da gráfica era o local da oficina de carros. Quando a reportagem afirmou que havia visitado o local e que não havia gráfica, o presidente do PSL ligou mais tarde e disse que a empresa se mudou. Na explicação, criticou a lei de cotas para mulheres na política e disse que a vocação para a política é masculina.
— Eu considero a regra (errada) — afirmou. — Você tem que ir pela vocação. Tá certo? Se os homens preferem mais política do que mulher, paciência. É a vocação. Se você fosse fazer uma eleição para bailarinas e colocasse uma cota de 50% para homens, você ia perder belíssimas bailarinas. Porque a vocação da mulher para bailarina é muito maior. É uma questão de vocação — acrescentou.
Tanto Bivar quanto o presidente do PSL em Pernambuco, Antonio de Rueda, disseram que o responsável por repassar os R$ 400 mil a Maria de Lourdes foi Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Bebianno, no entanto, não respondeu aos questionamentos da reportagem.