O deputado federal e futuro ministro-chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni pediu "trégua" à imprensa nesta sexta-feira (7), ao participar de evento com empresários do grupo Lide, em São Paulo. Ao final do evento, ao ser questionado sobre a investigação da qual é alvo pelo suposto recebimento de dinheiro em caixa 2 e sobre o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que aponta movimentações financeiras suspeitas de um ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente eleito, Onyx se irritou e abandonou entrevista coletiva.
— Setores estão tentando destruir a reputação do senhor Jair Messias Bolsonaro. No Brasil, a gente tem que saber separar o joio do trigo. Nesse governo é trigo. (...) Onde é que estava o Coaf no mensalão, no petrolão? — disse Onyx.
Diante da insistência dos repórteres por uma declaração sua a respeito das suspeitas contra o ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Onyx rebateu:
— Eu lá sou investigador? Qual é a origem do dinheiro? Quanto o senhor (repórter que havia feito a pergunta) recebeu neste mês? — questionou Onyx, encerrando a entrevista.
A "trégua" de Onyx foi pedida no fim de seu discurso no evento.
— Quero pedir para a imprensa que nos acompanha, por favor, uma trégua, em nome do Brasil — disse Onyx, sob aplausos da plateia, formada majoritariamente por empresários.
Na entrevista coletiva após o evento, o futuro chefe da Casa Civil foi questionado por jornalistas sobre como seria a trégua.
— Algumas áreas da imprensa brasileira abriram francamente um terceiro turno. Temos nossas limitações, nossas dificuldades. Vamos fazer um grande pacto. Não ganhamos carta em branco. Sabemos que temos oposição. Temos tido todo respeito do ponto de vista do futuro do nosso país. A partir do dia 1° de janeiro, quando o governo assumir e tiver diretriz, aí sim, se estiver errado, critica.
Em seguida, Onyx foi perguntado sobre o inquérito aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar o suposto uso de caixa 2 em suas campanhas.
— Se tem um cara que é tranquilo sou eu. Vim com Deus. Agora com investigação autônoma, vou poder esclarecer. Nunca tive corrupção. Não pode ser hipócrita de querer misturar financiamento e não registro de recebimento de amigo. Esse erro eu cometi. Sou o único que tenho a coragem de assumir — afirmou.
O futuro ministro disse que "subscreve" a declaração do presidente eleito, Jair Bolsonaro, de que usaria sua "caneta Bic" para exonerar um ministro que fosse alvo de uma "denúncia robusta".
— Gosto tanto da caneta Bic que subscrevo a declaração dele — disse.
Relatório do Coaf
Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo publicada na quinta-feira (6) mostra que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, quando o filho do presidente eleito ocupava o mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro.
Fabrício José Carlos de Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 15 de outubro deste ano. Registrado como assessor parlamentar, Queiroz é também policial militar e, além de motorista, atuava como segurança do deputado.
O documento foi anexado pelo Ministério Público Federal à investigação que deu origem à Operação Furna da Onça, realizada no mês passado e que levou à prisão 10 deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O Coaf informou que foi comunicado das movimentações de Queiroz pelo banco porque elas são "incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira" do ex-assessor parlamentar.
Uma das transações na conta de Queiroz citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. A compensação do cheque em favor da mulher do presidente eleito Jair Bolsonaro aparece na lista sobre valores pagos pelo PM.
O Coaf também identificou movimentações atípicas entre contas de Queiroz e de sua filha, Nathalia Melo de Queiroz, que atuou como assessora de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados até outubro deste ano.
Nathalia é citada em dois trechos do relatório. O documento não deixa claro os valores individuais das transferências entre ela e seu pai, mas, junto ao nome de Nathalia, está o valor total de R$ 84 mil. A filha do PM foi nomeada em dezembro de 2016 para trabalhar como secretária parlamentar no gabinete de Bolsonaro na Câmara.
No dia 15 de outubro deste ano, ela foi exonerada — mesma data em que seu pai deixou o gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nathalia recebeu em setembro, pelo gabinete de Jair Bolsonaro, um salário de R$ 10.088,42.