Uma semana após o vazamento de discussões acaloradas entre deputados federais eleitos pelo PSL, integrantes do partido avaliam que “o pior já passou”. Mas, se o desconforto inicial foi debelado, focos rebeldes ainda causam inquietação. O temor é de que as escolhas para a liderança da sigla na Câmara e do candidato à presidência da Casa tragam de volta o clima hostil da principal bancada de sustentação ao próximo governo.
Atuando como bombeiro nos bastidores, Jair Bolsonaro (PSL) vai se encontrar com os futuros parlamentares na tarde desta quarta-feira (12), na sede da transição de governo, em Brasília. Quem confirmou presença espera discurso duro em favor da unidade.
O centro da discussão será a necessidade de coesão para aprovar a pauta que será proposta ao Congresso no primeiro semestre, incluindo a reforma da Previdência.
Atualmente com oito deputados federais, o PSL passará para, no mínimo, 54 no início de 2019. A rápida evolução da legenda é vista como terreno fértil para desavenças, já que parte dos eleitos nunca ocupou função pública.
– Tem muito de falta de experiência. Esse pessoal, que está ansioso por espaço, não percebe que o PSL cresceu – relata um interlocutor do partido cotado para atuar próximo ao futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), a partir de janeiro.
Entre as críticas feitas aos novatos, o nome mais recorrente é o da deputada eleita Joice Hasselmann (SP). Ela foi a protagonista de discussões em grupo de WhatsApp, vazadas na semana passada. Acusada de “atropelar” negociações e querer definir sozinha os rumos do partido, foi alvo do futuro colega na Câmara e correligionário Eduardo Bolsonaro (SP), a quem respondeu de forma dura, dizendo que a nova bancada “tem de ser ouvida”.
Para jogar panos quentes, ambos selaram trégua nesta terça-feira (11). Joice postou em suas redes sociais foto dos dois fazendo um coração com as mãos, mencionando “paz pelo Brasil” e que “irmãos são assim”. A trégua aparente não chegou a outros membros da sigla.
O presidente do PSL em São Paulo, senador eleito Major Olímpio, diz que não há racha na legenda, mas não esconde o desconforto com a deputada eleita.
– Não há divisão. Na verdade, são todos (do PSL) contra uma pessoa – referindo-se a Joice.
Logo após o segundo turno, a futura deputada começou a articular para assumir a liderança da sigla na Câmara em 2019. No entanto, a cúpula do PSL deverá apoiar o reeleito Delegado Waldyr (GO), político experiente e com trânsito no Congresso. Nesta terça-feira (11), o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, anunciou que o parlamentar será conduzido ao posto neste ano e pontuou que defende sua permanência para o próximo.
Outra discussão é referente ao futuro presidente da Câmara. O atual ocupante do cargo, Rodrigo Maia (DEM-RJ), busca apoio de Jair Bolsonaro. Em troca, oferece votos entre parlamentares do centrão e apoio à pauta econômica. O perfil conciliador, com trânsito inclusive entre partidos de esquerda, é criticado pela ala mais conservadora do PSL, que inclui evangélicos e militares. O grupo defende o nome do pastor João Campos (PRB-GO), prestigiado pelas bancadas conhecidas como BBB – boi (agronegócio), bala (segurança pública) e bíblia (evangélica).
A menos de 20 dias da posse, Jair Bolsonaro, que esteve no Congresso por 28 anos, precisará ter habilidade para neutralizar os ataques da oposição, mas também para sustentar o discurso de fim da velha política, acabando com disputas por poder dentro do próprio partido. Enquanto isso, neste terça-feira (11), em clima de descontração, participou de almoço com cantores sertanejos, a quem agradeceu o apoio a sua candidatura.
Os bate-bocas
- O PSL terá a segunda maior bancada para a Câmara. Atualmente com oito cadeiras, o partido elegeu 52 deputados na eleição de outubro.
- O objetivo é chegar a 60 parlamentares, atraindo eleitos por siglas que não ultrapassaram a cláusula de barreira.
- Assim que a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) foi confirmada no segundo turno, houve a primeira disputa pública de poder. Bolsonaro se reunirá com a bancada do partido hoje e disse que tentará “acalmá-los”.
- Presidente licenciado do PSL, Luciano Bivar retomou o posto, então ocupado pelo braço direito de Bolsonaro, Gustavo Bebianno.
- Deputada federal mais votada do país, Joice Hasselmann (SP) iniciou negociação para assumir a liderança do PSL na Câmara.
- O movimento causou desconforto entre correligionários, que a acusaram de “atropelar” as articulações da legenda.
- Discussão entre Joice e o deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL) em grupo de WhatsApp foi vazada. Na terça-feira (11), Joice divulgou foto em que os dois fazem um coração com as mãos, minimizando a briga.
- Disputas regionais também foram percebidas. No Rio Grande do Sul, Carmen Flores deixará o comando do partido a contragosto.
- No Mato Grosso do Sul, integrantes do PSL criticaram a indicação de Tereza Cristina (DEM-MS) para o Ministério da Agricultura, defendendo um nome da sigla para o posto.
- No Paraná, a ausência de deputado federal Delegado Francischini, próximo a Bolsonaro na campanha, no alto escalão do futuro governo, gerou desconforto.