Condenado a 12 anos e um mês de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depôs por cerca de três horas à juíza Gabriela Hardt na Justiça Federal de Curitiba, na tarde desta quarta-feira (14). A magistrada substitui o titular da 13ª Vara, Sergio Moro, futuro ministro da Justiça do presidente eleito Jair Bolsonaro. Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Sob forte escolta, ele deixou por volta das 13h30min a Superintendência da Polícia Federal, onde cumpre pena desde 7 de abril pelo caso do triplex do Guarujá. No interrogatório, o petista será perguntado sobre a suposta propriedade do imóvel e as reformas feitas no local. No final da tarde, deixou a Justiça Federal e chegou à sede da PF, onde está preso, por volta das 18h.
Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), embora esteja em nome de amigos da família de Lula, ele seria o dono de fato do sítio e teria pedido que as empreiteiras OAS e Odebrecht realizassem melhorias avaliadas em cerca de R$ 700 mil. No total, entre a reforma e a aquisição de móveis e equipamentos, o petista teria recebido R$ 1,02 milhão em propina. Em troca, teria facilitado o acesso das empresas a contratos na Petrobras.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que não há nenhuma expectativa que não seja uma nova condenação do petista, que já cumpre prisão após condenação no caso do triplex do Guarujá.
O PT acusa o juiz Sergio Moro de ter preparado um roteiro para a condenação de Lula e ter interferido na eleição presidencial ao aceitar ser ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro.
A presidente do partido afirmou que Moro deveria se exonerar do cargo assim que aceitou ser ministro, para que o processo de Lula fosse redistribuído a outro magistrado definitivamente, e não ter saído de férias e deixado a juíza substituta Gabriela Hardt para conduzir a ação. A magistrada conduz o interrogatório de Lula, nesta quarta-feira, 14.
Moro, disse Gleisi, tirou férias para que a "amiga dele pudesse continuar o julgamento e seguir o seu roteiro que é condenar o presidente Lula". Questionada sobre a expectativa em relação à substituta, Gleisi declarou em frente ao prédio da Polícia Federal:
— Nenhuma. Porque é uma juíza que é a sequência do que o juiz Sergio Moro quer.
Mais tarde, em frente à sede da Justiça Federal do Paraná, onde Lula foi conduzido para depoimento, a dirigente petista declarou que Lula é inocente das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ela classificou o depoimento de hoje como "mais uma peça teatral desse processo".
Apoiadores em frente ao prédio
— Sabíamos que não iam dar o gosto a Lula de nos ver, mas mandamos ânimo a ele do mesmo jeito para que sinta nossa companhia — disse Susi Montserrate, na vigília que se instalou em um terreno vizinho desde que Lula foi preso, em 7 de abril.
Pela manhã, o líder da esquerda recebeu seus advogados e Fernando Haddad, candidato do PT derrotado nas eleições presidenciais de outubro. Deputados e senadores do PT acompanharam a manifestação, assim como grupos mais numerosos de pessoas que foram até a sede da Justiça Federal do Paraná.
— Tínhamos muita expectativa de vê-lo. Faz 222 dias que está preso — disse Regina Cruz, líder sindical, em frente à sede da Justiça Federal.
Em um dia que começou com temperaturas elevadas e seguiu sob fortes chuvas, os manifestantes prometeram se manter ali até o final do interrogatório.
— Ele está preso sendo inocente, é um preso político, não houve provas, apenas montaram um circo este ano para impedi-lo de participar das eleições porque seria presidente de novo — afirmou Célia Pontkievicz.